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[caption id="attachment_8528" align="alignright" width="300"]1581161115 Questões de interesse de toda a sociedade também foram debatidas[/caption]

O grupo que discutiu Estratégia e Mobilização na 17ª Conferência Nacional dos Bancários abordou temas como terceirização, correspondentes bancários, a luta pela defesa do emprego no HSBC , papel social dos bancos e organização do sistema financeiro, entre outros. Tratou tanto de questões específicas dos bancos públicos e privados, como de assuntos de interesse mais amplo da sociedade.
"A dinâmica foi muito boa, muitas propostas foram construídas por consenso, o que fortalece a nossa unidade para negociar com os banqueiros", afirmou Ernesto Shuji Izumi, secretário Formação Sindical da Contraf-CUT, um dos coordenadores da mesa.

Entre as decisões, uma fortalece a participação feminina nas conferências nacionais. O grupo aprovou proposta de que, em caso de não cumprimento da resolução que determina cota mínima de 30% de mulheres, a delegação será reduzida em sua representação. 

Nas lutas gerais da sociedade, o grupo aprovou: a luta pela reforma política, fim do financiamento privado (pelo financiamento público de campanha), reforma tributária, democratização da mídia, defesa da Petrobras (não à quebra do sistema de partilha), defesa de democracia e dos direitos, redução da taxa de juros com crescimento e desenvolvimento econômico, auditoria da dívida pública e contra a criminalização dos movimentos sociais.

"Fortalecemos a nossa organização para dizer não ao retrocesso. Foi com nossa unidade que conseguimos avançar nos últimos trinta anos e é partir dela que poderemos alcançar novas conquistas. Não só nas reivindicações da categoria, como também na luta de toda a sociedade", afirmou Carlos Eduardo Bezerra Marques, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, que também coordenou a mesa.

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[caption id="attachment_8525" align="alignright" width="300"]1581152935 Debates se deram com tranquilidade e divergências solucionadas[/caption] Em grupo específico sobre Emprego, delegados da 17ª Conferência Nacional dos Bancários discutiram propostas a serem incluídas na pauta de reivindicações da categoria, que será negociada com a federação dos bancos (Fenaban).

Os debates se deram com tranquilidade e as divergências foram solucionadas com diálogo e construção de consensos. Entre os principais pontos aprovados estão a inclusão de artigo em que se reivindica a garantia dos empregos de todos os trabalhadores abrangidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) durante a vigência da mesma e a ratificação do Convenção 158 da OIT, que coíbe dispensas imotivadas.

Outro item importante da pauta é a determinação de no mínimo 15 funcionários por agência bancária, sendo que desses pelo menos dois desempenhem a função de caixa.

Entre vários outros pontos do tema, os trabalhadores reivindicarão a redução da jornada de trabalho para 5 horas diárias e 25 horas semanais, com intervalo de 15 minutos para descanso. Também se condiciona a ampliação do período de atendimento bancário ao público à criação de outros turnos de trabalho. Foi consenso ainda a proibição de funcionamento de agências, inclusive das agências de negócios, aos sábados, domingos e feriados.

"As questões relativas ao emprego serão o tema central da Campanha Nacional 2015. Com os bancos lucrando cada vez mais, não há razão para tantas demissões e fechamento de postos de trabalho", avalia Ivone Maria da Silva, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenadora da mesa.

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[caption id="attachment_8522" align="alignright" width="300"]158112749 Dados do CIAB-Febraban também foram mostrados[/caption] Os resultados da Consulta Nacional dos Bancários e um resumo dos debates do Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras (Ciab Febraban), realizada em junho desta ano, foram mostrados no segundo dia da 17ª Conferência Nacional dos Bancários, na manhã deste sábado (1), no Hotel Holiday Inn Parque Anhembi, em São Paulo.

O resultado da Consulta Nacional dos Bancários 2015 aponta as principais reivindicações dos trabalhadores. Com mais de 48 mil participantes, o número de bancários que responderam a pesquisa aumentou 36% em comparação a 2014. Eles representam 57 sindicatos de todo o País. Destes, 68% são sindicalizados, sendo 46% mulheres e 54% homens. A grande maioria, 64%, tem entre 21 e 40 anos e os brancos representam 72%, contra 4% de negros que participaram.

As reivindicações apontadas como prioritárias na questão de remuneração foram: aumento real (40%) e PLR maior (57%). Já sobre emprego, os bancários querem mais contratações e o fim das demissões, além da rejeição às terceirizações. Índices de reajuste entre 10,0% e 15% foram aprovados por 55%. 

O combate ao assédio moral e as metas abusivas são os principais problemas relacionados à saúde dos trabalhadores. Os bancários consideram este tema como um dos mais importantes, já que quase nove mil afirmaram ter se afastado por motivo de doença nos últimos 12 meses e 9.678 declararam ter feito uso de medicamento controlado no mesmo período.

Sobre segurança, os bancários reivindicam adicional de risco de 30% nas agências, postos e tesouraria, além de monitoramento por câmeras em tempo real. E somente 5% disseram que não participam de mobilizações da campanha nacional.

Questões políticas também fizeram parte do questionário: 73% consideraram importante a regulamentação do sistema financeiro, 66% se mostraram a favor da realização de uma greve geral contra a terceirização e 70% apoiam a democratização da mídia. Além disso, 74% são a favor da reforma política.

CIAB FEBRABAN 2015

Ao contrário da consulta Nacional, os dados do Ciab preocupam a categoria. Um dos destaques foi o saldo de emprego dos bancos. De janeiro de 2012 a maio de 2015, o setor bancário fechou 22 mil e 363 postos de trabalho, o que representa uma média de 545 empregos a menos, durante 41 meses. Dois pontos explicam a redução: terceirização via correspondentes bancários e meios digitais e automação de processos.

A análise fica ainda mais negativa para a categoria com as tendências apresentadas no evento dos banqueiros. A representatividade das agências nas operações caiu pela metade entre 2010 e 2014. Hoje, apenas 7% das transações são realizadas nas agências. O volume de transações também diminuiu em agências, caixas eletrônicos e contact Center. Em 2010, eram 46%, contra 31% em 2014. Já em internet e mobile bank subiu de 35%, em 2010, para 50%, em 2014.

Segundo os banqueiros, o processo está apenas no começo. Eles acreditam que a penetração bancária pela internet - que já atinge 55% e, pelo smartphone,é de 41%, no momento -, alcançará em dez anos os números de países desenvolvidos - entre 80 e 85% pela internet e 75 e 80% pelo smartphone.

O número de agências cresce abaixo da demanda por serviços bancários. Se, em 2010, eram 30 agências para cada 100 mil adultos bancarizados, em 2014 são 28. A Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária aponta para um novo modelo de agência. "As quedas consecutivas do número de transações poderiam apontar uma tendência de extinção das agências no longo prazo. Porém, nota-se que a maioria dos clientes ainda preza por um ponto de relacionamento para operações mais complexas, tais como investimentos de alto volume e contratação de crédito. Isso gera uma mudança no perfil do tipo de relacionamento oferecido, que deve ser focado cada vez menos em transações e ganhar um caráter cada vez mais consultivo."

O texto diz ainda que, ao mesmo tempo, a mudança requer o recrutamento de funcionários com perfil adequado a cada modelo de agência. Os bancos deverão desenvolver capacitações de venda e de conhecimento de produtos nas equipes de funcionários nas agências, adequando os modelos de carreira e treinamentos ao perfil de "funcionário digital". "Em meio a essas mudanças, faz-se necessário padronizar e melhorar processos e ferramentas na agência para permitir a inteligência de venda. Por fim, é fundamental revisar o modelo de gestão de vendas, ajustando os planos de metas e recompensas levando em conta o papel de geração de receitas."

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[caption id="attachment_8519" align="alignright" width="300"]15731232622 A mesa contou com representantes das diversas centrais e tendências políticas[/caption] O presidente da Contraf-CUT, Roberto Von der Osten, reafirmou a importância da unidade da categoria, em discurso durante a abertura oficial da 17ª Conferência Nacional dos Bancários, na noite desta sexta-feira (31), no Hotel Holiday Inn Parque Anhembi, na cidade de São Paulo. Fortalecer a unidade foi o desafio lançado por Roberto. A mesa da abertura contou com a presença de representantes das diversas centrais e tendências políticas e de federações e sindicatos de todo o País. 

"Os bancários e bancárias estão esperando muito da gente e eu tenho certeza que aqui [na conferência nacional] nós vamos construir nosso futuro. Vamos mobilizar os trabalhadores, porque nós temos base, não somos sindicalismo de fachada, todos aqui representam milhares de trabalhadores que confiam na nossa ação, e juntos nós somos muito maiores", afirmou o dirigente da Contraf-CUT.

Roberto enfatizou a importância da história da categoria. "Temos de honrar os bravos lutadores que há 30 anos construíram o modelo que estamos dando continuidade. São 23 convenções coletivas e 11 anos de ganho real. Nós teremos agora que construir nosso futuro. Temos que tirar dinheiro do banqueiro e distribuir para a sociedade. Temos que combater a desigualdade e distribuir oportunidades."

O presidente da Contraf-CUT lembrou do momento de atribulações pelo qual passa o Brasil atualmente. "O bancário sabiamente entendeu que estamos fazendo uma campanha em um momento muito difícil. Mas quando que nós dissemos que será fácil fazer campanha nacional? Campanha é difícil. Mas isso nunca nos desestimulou, pelo contrário. Nos estimula para a luta", disse. "Mas se tem um cenário difícil é porque tem uma crise política, que se transformou em uma crise econômica pelos derrotados [das eleições de 2014], que querem transformar em crise social", completou.

Roberto defendeu o governo federal, mas apontou erros, como o plano de ajuste fiscal e o aumento na taxa Selic. "São erros que vão na contramão do desenvolvimento, do crescimento e da inclusão, que nós conseguimos no governo Lula. Mas tem uma coisa que não vamos admitir, que é o golpe. Vamos nos juntar com as centrais para defender nossos direitos e enfrentar o ajuste fiscal."

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e vice-presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, destacou que a defesa do emprego bancário é uma das prioridades da Campanha 2015. "Hoje 50% das operações bancárias são feitas pelos próprios clientes, mesmo assim, os bancos continuam cobrando tarifas exorbitantes e juros altos", disse.

Juvandia ressaltou ainda que a campanha é um momento importante para debater a terceirização, que ameaça empregos, direitos e a própria organização sindical dos trabalhadores. O projeto de lei da terceirização (originalmente PL 4330/2004) foi aprovado pela Câmara e agora tramita no Senado como PLC 30/2015.

"A campanha é também um momento importante para discutir reformas fundamentais para o País, como a política e a tributária e a democratização dos meios de comunicação, hoje nas mãos de apenas seis famílias. Não podemos deixar se fazer esses debates", defendeu. 

Em seu discurso, o presidente da CUT, Vagner Freitas, manifestou solidariedade à Juvandia Moreira e ao secretário-geral da central sindical, Sérgio Nobre, por serem "perseguidos pela mídia golpista", como ressaltou. "Essa sanha de acabar com os movimentos sociais e a esquerda é porque demonstramos que temos alternativas um milhão de vezes melhor do que eles. Estamos sendo julgados pelos nossos acertos, que eles não admitem. Perseguem a Petrobras porque estamos despertando o interesse internacional. Porque sabem que vamos consolidar a democracia para os trabalhadores com o pré-sal. Estamos questionando a ordem mundial por isso querem nos destruir", afirmou. 

Vagner lembrou que, durante o governo do PT, a CUT esteve à frente de todas as lutas dos trabalhadores, não apenas criticando. "Mas sim também organizando a luta. Contra a terceirização, que joga fora as conquistas dos trabalhadores, a CUT estava nas ruas junto com outras centrais. Estamos nas ruas em defesa dos trabalhadores e também para impedir o retrocesso e o golpe da direita, que está sendo construído pela mídia golpista e por um congresso que não representa os trabalhadores", acentuou. 

Para Vagner, a unidade da CUT é mostrada na prática. "Por isso, no 1º de Maio conclamamos a formação de um bloco de esquerda para dar continuidade aos avanços de cabeça erguida".

O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, falou em nome de todas as outras categorias e destacou a necessidade de posicionamento claro dos representantes dos trabalhadores: "Quem quer derrotar a esquerda não é de esquerda. Tem companheiro que vacila e não pode vacilar. Temos de ir para cima dos que sempre nos exploraram e contra a política econômica, ser de esquerda é ser contra a burguesia", destacou.

Cayres também fez referência ao atentado político contra o Instituto Lula, que aconteceu na madrugada na noite de quinta-feira (30), afirmando que o fato mostra que a direita ultrapassou todos os limites.

Para Nilton Esperança, presidente da Fetraf- RJ/ES, o momento é de grande reflexão sobre os rumos que os trabalhadores devem tomar e qual discurso levar às ruas. Segundo ele, deve ser o debate da defesa dos direitos: "Não existe crise financeira, os bancos nunca lucraram tanto, queremos dignidade e respeito nas negociações", afirmou.

O PODER DOS BANCOS

Representando a Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul (FEEB-SP/MS), seu vice-presidente, Moacir Januário, destacou a importância da unidade de categoria para manter os direitos e avançar em mais conquistas. "Sabemos que os bancos podem e podem muito atender as nossas reivindicações. Bancos simplesmente não enfrentam crises. Mesmo com essa crise que acontece no momento, eles demonstram um crescimento de lucratividade muito grande. Então, não têm desculpa para não atenderem as nossas reivindicações. Estamos em busca de um só objetivo, que é defender e conquistar direitos para que todos os bancários tenham melhores condições de trabalho e uma vida mais digna", declarou.

O representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadores do Brasil (CTB), Emanoel Souza de Jesus, destacou a importância da unidade da categoria bancária. "A unidade vai tornar nossa campanha salarial vitoriosa nas nossas reivindicações específicas e também na luta geral dos trabalhadores brasileiros por mais direitos e democracias".

O representante da Intersindical, Carlos Pereira Araújo, defendeu o aprofundamento de debate sobre questões como a terceirização, papel do sistema financeiro com controle social, reforma tributária com taxação das grandes fortunas e democratização dos meios de comunicação. "Nós entendemos que é necessário fazer auditoria da dívida pública", enfatizou.

A dirigente da CSP-Conlutas, Joaninha de Oliveira, criticou duramente o ajuste fiscal liderado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy e afirmou que os trabalhadores são as maiores vítimas. Também relacionou a grande lucratividade dos bancos com o adoecimento dos bancários.

"Os banqueiros deste País lucram muito e os bancários pagam com as metas e o assédio moral. Uma situação difícil. A atual conjuntura econômica é muito complexa e apresenta vários desafios para a classe trabalhadora. Faremos uma ação nacional em setembro contra a perda de direitos", ressaltou. 

Também fizeram parte da mesa os seguintes dirigentes: Alci Matos (Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços - Contracs), José Boaventura (Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes), José Avelino Barreto Neto (Fetec Centro-Norte), Junior Cesar Dias (Fetec-PR), Leandro Spezia (Fetec-SC), Luis Cesar de Freitas (Fetec-SP), Magaly Lucas Fagundes (Fetraf-MG), Jair Ferreira (Fenae), Carlos Eduardo Bezerra Marques (Fetrafi-NE), Arnone Hanke (Fetrafi-RS), Carlos Pereira Araújo (SEEB-ES), Jacir Zimmer (SEEB-Florianópolis), José Maria Guerra (SEEB-MT), José Arimatéia de Sousa (SEEB-PI), Everton Gimenis (SEEB-Porto Alegre), Adriana da Silva Nalesso (SEEB-RJ), José Pinheiro de Oliveira (SEEB-RO), Adauto Andrade Martins (SEEB-RR), Ivania Pereira (SEEB-SE), Belmiro Moreira (SEEB-ABC), Edmar Batistela Tonelly (SEEB-AC), Jairo Luiz França (SEEB-AL), Edson Azevedo dos Anjos Gomes (SEEB-AP), Augusto Sérgio Vasconcelos de Oliveira (SEEB-BA), Eliana Brasil (SEEB-Belo Horizonte), Wandeir Souza Severo (SEEB-DF), Jeferson Boava (SEEB-Campinas), Edvaldo Franco Barros (SEEB-Campo Grande), Elias Jordão (CEEB-Curitiba), Suzineide Medeiros (SEEB-PE) e Marcos Henrique e Silva (Sintrafi-PB). 

Fonte: Rede Nacional de Comunicação dos Bancários

[caption id="attachment_8516" align="alignright" width="300"]15731193011 O declínio na produção é preocupante, segundo o secretário-geral da CUT[/caption] O secretário geral da CUT Nacional e coordenador de Macrosetores, Sérgio Nobre, falou nesta sexta-feira (31), no painel sobre Estrutura do Sistema Financeiro Nacional da Conferência Nacional dos Bancários, a respeito da importância de integrar produção e sistema financeiro no Brasil. Segundo ele, o grande desafio hoje do país é aumentar a produção industrial, que sofreu um declínio considerável nas três últimas décadas. "Há 30 anos a indústria representava 30% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje representa 10,9%".

Esse declínio, na avaliação de Nobre, é preocupante, porque o nível de produção industrial de um país está diretamente ligado ao padrão de vida dos seus habitantes. "Sem ter uma indústria forte, não conseguiremos criar condições para o Brasil desenvolver e dar melhores condições de vida ao nosso povo", enfatizou.

O secretário geral da CUT disse ainda que, enquanto a produção industrial vem caindo, o comércio cresceu de maneira extraordinária a partir de 2003, graças a política de melhor distribuição de renda e expansão do crédito.

No entanto, o crescimento desse segmento se deu, principalmente, por conta do abastecimento por produtos importados. "O ideal é que os dois setores, indústria e comércio, caminhassem juntos". 

Segundo Sérgio Nobre, o sistema financeiro teria um papel importante na promoção do desenvolvimento industrial, mas não tem interesse, porque ganha dinheiro com especulação e não está preocupado com a geração de empregos e crescimento do país. Ao contrário, lembrou, ele, os bancos, apesar dos lucros exorbitantes que têm obtido, estão cortando posto de trabalho.

Nobre defendeu a realização de um grande debate convocado pelos trabalhadores do sistema financeiro, que reúna representantes de outros setores com o objetivo de criar propostas para mudar o sistema financeiro. Para o representante da CUT, é importante também a participação dos trabalhadores no Comitê de Política Monetária (Copom). "Essa é uma reivindicação nossa. Queremos debater a política de juros adotada no País".

DESIGUALDADE

O economista Fernando Nogueira da Costa, professor da Unicamp, chamou atenção para o tamanho da desigualdade no mundo. "As 85 pessoas mais ricas no mundo detêm o mesmo que metade da população do planeta. Além disso, 20% vivem com menos de um dólar por dia e 40% com apenas dois dólares por dia. Ou seja, esse não é só um problema do Brasil."

Mas o economista chamou a atenção para a ausência de taxação de grandes fortunas no Brasil e em outros países de economia emergente do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). "Os países desenvolvidos como Alemanha, França, Inglaterra têm impostos sobre grandes fortunas, que é uma das formas de promover mais justiça social. Mas economias emergentes como Índia e China não", comparou, acrescentando que uma forma de evitar a fuga de capital para paraísos fiscais seria a adoção da taxação de riqueza por todos os países do mundo.

O professor também destacou que, nos últimos 12 anos, o crescimento do salário médio real no Brasil foi de 17%, enquanto o do capital foi de 130%. Mas a bancarização aumentou: passou de 75 milhões em 1999 para 200 milhões no final de 2014.

Além da bancarização, Nogueira apontou a educação financeira como fundamental para todo trabalhador. "Todos que quiserem manter seu padrão de vida após a aposentadoria teriam que ter algum tipo de conhecimento do mercado financeiro", disse.

COMERCIÁRIOS

No mesmo painel, Alci Matos Araújo, presidente da Conferência Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT), expôs aos bancários os impactos da expansão do Sistema Financeiro Nacional para dentro do setor comercial. 

"Na tentativa de ampliar os lucros, os bancos têm buscado, cada vez mais, o comércio e seus serviços agregados para atuarem como correspondentes bancários. Esse processo de terceirização transforma lojas e supermercados em vendedores de produtos financeiros, agentes e promotores de crédito", resumiu. 

Segundo Araújo, o processo de terceirização, na forma como tem acontecido, se traduz em precarização para a categoria, por vários motivos: enquanto os bancos encerram o expediente às 16h, o comércio recebe os boletos até as 21h. Já os bancários possuem negociação coletiva nacional, com piso de R$ 1.638,62 para jornada de 6 horas, enquanto os comerciários fazem negociação individual, com piso médio de R$ 870 para uma carga horária de 44 horas semanais. Até os programas de remuneração e PLR dos trabalhadores no comércio e serviços inclui o cumprimento de metas financeiras.

"Diante da imposição dos métodos utilizados pelos bancos, os comerciários são expostos a metas exageradas para vendas casadas, de produtos normais e financeiros. Isso coloca seus empregos em risco e reduz o valor das comissões recebidas, além de provocar adoecimento e demissões", resumiu. "Por isso, somos radicalmente contra a precarização gerada pelo processo de terceirização".

Ao final, o presidente da Contracs-CUT conclamou bancários e comerciários a se unirem: "Acreditamos que a unidade destas duas categorias é o principal meio para fortalecer nossa ação sindical e garantir os avanços nos direitos da classe trabalhadora. É preciso uma ação mais contundente de todos nós, pois as mudanças só acontecem com mobilização!", concluiu. 

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[caption id="attachment_8511" align="alignright" width="300"]1573117364 Paulo Gil discorreu sobre as perversidades do sistema tributário brasileiro[/caption] As injustiças do sistema tributário brasileiro acirram a desigualdade social, mas não são fáceis de ser alteradas. O tema foi debatido durante o segundo painel da 17ª Conferência Nacional dos Bancários nesta sexta-feira (31), primeiro dia do evento que será encerrado no domingo 2, com a votação da pauta de reivindicações da categoria para a Campanha 2015.

Paulo Gil, auditor fiscal da Receita Federal e integrante do Instituto Justiça Fiscal, discorreu sobre as perversidades do sistema tributário brasileiro, que obriga os mais pobres a pagar proporcionalmente mais impostos, enquanto os ricos contam com uma série de benesses.

Ele explicou que existem três bases clássicas de tributação: patrimônio, renda e consumo. Por aqui, 56% dos impostos incidem sobre a base de consumo, 4% sobre o patrimônio e 30% sobre a renda. "O que acontece com a tributação sobre o consumo? Quem ganha menos vai ter proporcionalmente uma carga maior de impostos e quem ganha mais vai ter uma carga menor, porque esses impostos são iguais para todos ao invés de serem progressivos [quem ganha mais paga mais]", explicou Gil.

E a carga tributária vem pesando cada vez mais sobre os mais pobres. Em 1996, 28% daquilo que ganhavam as famílias com até dois salários mínimos era gasto com o pagamento de impostos. Em 2003, esse percentual subiu para 48,9%.

Os impostos sobre o patrimônio correspondem a apenas 4% do total arrecadado, e ainda a injustiça se amplia. Uma das taxas que incidem sobre o patrimônio é o IPVA. Entretanto, só recai sobre quem possui veículos que trafegam em ruas e rodovias. Proprietários de iates, lanchas e aviões particulares estão isentos. "O grande patrimônio imobiliário e a riqueza financeira sofrem incidência ínfima", resume Paulo Gil.

A outra base de tributação, a renda, equivale a 30% de todos os tributos. E aqui também a injustiça se faz presente. O trabalhador não poderia sonegar imposto nem se quisesse, já que o salário já chega no seu bolso com desconto em folha.

Paulo Gil lembra que além disso, o trabalhador, quando declara seu imposto de renda, deve informar na ficha de rendimentos tributáveis "se tiver uma poupançazinha, ao contrário do empresário, que usa ficha de rendimentos isentos para tributar os lucros recebidos". E lembra: "Esse foi um presente para os empresários dado pelo Fernando Henrique Cardoso, que um dia depois do Natal de 1996 criou dispositivos legais para instituir a isenção dos lucros da empresa e a dedução de juros de capital próprio. Se eu tivesse uma bala de prata só, acabava com isso".

Como medidas para tornar o sistema de impostos brasileiro mais justo, Paulo Gil citou revogar isenção e lucros de dividendos, tributar progressivamente a renda e o patrimônio, tributar fluxos financeiros especulativos, reforçar a fiscalização contra a sonegação fiscal, aliviar a tributação sobre o consumo e desonerar a renda dos trabalhadores.

"A questão central é deslocar a carga tributária do consumo para as rendas do capital e o grande patrimônio. Nós temos que deixar claro que não aceitamos mais esse patamar de concentração de renda e de riqueza", finalizou Gil.

Congresso barra reforma

A formação atual do Congresso Nacional é considerada uma das principais barreiras para a reforma tributária no Brasil. A análise é do assessor da presidência da CUT, Gilmar Carneiro. E não é pra menos: o número deputados federais com base sindical caiu de 83 para 46 nesta legislatura, enquanto a bancada empresarial, que defende interesses de diversos setores, manteve composição significativa, com 190 parlamentares, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
"Não é fácil fazer reforma tributária. O próprio Lula não fez e a Dilma não vai conseguir fazer com esse Congresso reacionário que está aí. O que pode passar hoje, com o Congresso que está aí, é o projeto da terceirização, que prejudica o trabalhador", criticou Gilmar.

Ajuste fiscal

O assessor da presidência da CUT também definiu como equivocado o ajuste fiscal comandado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. E destacou os altos rendimentos do sistema financeiro. Só no primeiro trimestre, o lucro dos cinco maiores bancos foi de R$ 19 bilhões, resultado que só tende a aumentar, levando em conta que Santander e Bradesco já divulgaram crescimentos expressivos até junho.
"O sistema financeiro aumentou o lucro, precarizou e terceirizou. Esta campanha salarial dos bancários vai ter de enfrentar o Levy, que deve endurecer. O que nos salva é o nosso acordo nacional e unificado", explicou o dirigente.

E Gilmar fez questão de destacar o poder de mobilização da base sindical, em especial dos bancários, em conquistas como a isenção do imposto de renda sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) dos trabalhadores. O governo federal sancionou lei federal, em 2013, que isenta os rendimentos de até R$ 6.677,55. 

Em comentário franco, o dirigente arrancou risos dos delegados que participam da Conferência. "Não foi uma batalha fácil, foi um verdadeiro inferno, mas uma grande conquista e não quebrou o governo, como diziam por aí. Vamos continuar lutando por um governo comprometido com o social e com os trabalhadores", concluiu. 

Fonte: Rede Nacional de Comunicação dos Bancários