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O Brasil precisa realizar uma reforma política urgente, com mudanças que vigorem já na próxima eleição, no ano que vem. E a população precisa ser ouvida, através de um plebiscito que aponte o novo modelo político e eleitoral do país. Essa é a opinião do deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) e do presidente da CUT, Vagner Freitas. Os dois comandaram os debates sobre a reforma política realizados nesta sexta-feira 19, primeiro dia da 15ª Conferência Nacional dos Bancários, em São Paulo. Ambos defenderam o financiamento público de campanha e alterações no modelo de representação. Entre as principais propostas está o polêmico fim do Senado (veja mais no quadro ao fim da matéria). Berzoini afirmou que o Partido dos Trabalhadores já colhia assinaturas para uma reforma política antes das manifestações populares, de junho. Os atos, segundo ele, trouxeram mensagens difusas, mas levantaram a questão da baixa representatividade política, uma crise presente em todas as democracias do mundo. "O atual modelo precisa ser debatido. E o centro do debate é o fim do financiamento privado de campanha. Temos de permitir maior igualdade e este deve ser o foco dos trabalhadores", afirmou o deputado que faz parte da comissão especial da Câmara que discute a reforma política. A esse grupo, o parlamentar deve levar três propostas: o estabelecimento de um teto de gastos em campanhas eleitorais, equivalente a um terço da média de despesas da última eleição; a proibição da contratação de cabos eleitorais e o fim do sigilo bancário nas contas das candidaturas, para estabelecer maior transparência dos gastos. Há amparo legal para que essas três medidas possam começar a valer já em 2014. Conservadorismo vai disseminar a confusão Tanto Vagner Freitas quanto Berzoini apontaram que o processo de plebiscito envolverá muita disputa política, já que o conservadorismo tende a disseminar a confusão entre a população, dizendo que o financiamento público tiraria verbas da saúde e da educação para financiar políticos. "Na verdade, o financiamento público devolveria a soberania ao povo, garantida na Constituição, que afirma: "todo o poder emana do povo", mas hoje o poder emana do povo, mas é intermediado pelo poder econômico", reforçou Berzoini. Para Vagner Freitas, se a sociedade não se mobilizar para pressionar o Congresso, a reforma política não sairá do papel. "Pode ter certeza que a maioria dos parlamentares, que só têm compromisso com os seus mandatos, vão enterrar a reforma política", disse. Vagner afirmou que a CUT defende a realização do plebiscito para que a população possa apontar a direção que a reforma política deve seguir. O presidente da CUT, que é bancário, aproveitou a Conferência Nacional da categoria para lançar uma nova ideia da central. "Se os políticos não fizerem o plebiscito, a CUT vai fazer. Vamos coordenar uma ampla consulta popular para ouvir a opinião dos trabalhadores. Este nosso plebiscito pode não ter amparo legal ou valor jurídico. Mas tem valor político. Ele vai mostrar ao Congresso quais as mudanças que o povo quer", afirmou. A mãe de todas as reformas Para Vagner Freitas, a reforma política é a mãe de todas as reformas, mas ela não valerá de nada se o Brasil não estabelecer um novo marco regulatória para a mídia. "A chamada grande imprensa é de direita e não dá voz para a esquerda ou mesmo para os mais pobres. Aliás, esta reforma política será de extrema importância para mostrar quem é de esquerda e quem é de direita, pelas propostas que cada um vai defender". A presidenta do Sindicato de São Paulo, Juvandia Moreira, que mediou a mesa de debates sobre a reforma política, afirmou que a conferência dos bancários um momento oportuno para colocar esta discussão de "fundamental para a classe trabalhadora". Para ela, a sociedade não se sente representada pelo Congresso Nacional apesar de ter votado, pois "quem o elege efetivamente é o capital". Um exemplo disso é que hoje no Congresso há apenas seis trabalhadores rurais, e 220 representantes do agronegócio. "Que chance tem um líder popular de ser eleito?", questiona a dirigente. Contra o PL 4330 Para o presidente da CUT, a tramitação do PL 4330, que libera a terceirização, é um exemplo da necessidade de reforma política, pois a bancada dos empresários é muito mais representativa do que a dos trabalhadores, em função do predomínio do poderio econômico nos processos eleitorais. "Se não conseguirmos fazer essa reforma agora, a próxima oportunidade pode demorar muito. O papel do movimento sindical e social é a mobilização das massas pela reforma política. A sociedade clama por uma participação que não pode se restringir ao voto. É preciso chamar a população para debater os rumos das políticas públicas. Temos que ter instrumentos de participação popular", defendeu Vagner. O dirigente também ressaltou que a melhor alternativa é o plebiscito, não o referendo. "Acho que o referendo é um bom instrumento. Mas nesse momento, o plebiscito seria melhor, pois a população formularia as políticas, enquanto no referendo, apenas diria sim ou não a propostas do Congresso", explicou, ressaltando que a reforma política é um problema dos trabalhadores, sim. "É um problema nosso porque interfere diretamente na nossa vida. Voto não é tutela para gerenciarem nossa vida como bem entenderem. Precisamos da reforma política, e precisamos mais: de uma reforma tributária com menos impostos para os pobres e mais para os ricos, com imposto sobre grandes fortunas para financiar políticas públicas". Mobilização em 30 de agosto Vagner Freitas abordou também o processo de mobilização conjunta das centrais sindicais em defesa da pauta dos trabalhadores e convocou os bancários a voltarem às ruas para novos protestos em 30 de agosto. Segundo ele, o governo até tem negociado com as centrais sindicais, mas sem atender as reivindicações que lhe são apresentadas. "Vamos intensificar a pressão iniciada no dia nacional de luta que fizemos em 11 de julho, com foco em três questões que consideramos fundamentais: fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e fim da terceirização, que passa pela rejeição ao PL 4330", ressaltou o presidente da CUT. A exemplo dos protestos do dia 11 de julho, a mobilização convocada para o dia 30 de agosto conta novamente com o envolvimento de todas as centrais sindicais do país. Principais propostas da CUT para reforma política * Fim do Senado * Combate à corrupção tornando-a crime inafiançável e fim da imunidade parlamentar para crimes penais e de corrupção * Financiamento de campanha exclusivamente público * Voto proporcional em lista partidária, com alternância de sexo, definidas em convenções partidárias democráticas e transparentes * Diminuição do número de assinaturas para projetos de Iniciativa Popular e mecanismos de facilitação de coleta. Essas propostas teriam tramitação prioritária * Inclusão de mecanismos para a democratização do Poder Judiciário Rede de Comunicação dos Bancários Evando Peixoto, Fábio Jammal e Renato Godoy

Rede de Comunicação dos Bancários Juliana Satie e Rodolfo Wrolli Saúde e condições de trabalho foram os temas que iniciaram os debates da 15ª Conferência Nacional dos Bancários nesta sexta-feira 19, em São Paulo. O assunto é um dos que mais preocupa a categoria. A conferência, que se estende ao sábado e domingo, aprovará a pauta de reivindicações da categoria, a ser entregue à federação dos bancos (Fenaban). O professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Wilson Amorim, apresentou conclusões prévias de uma pesquisa que busca identificar como a gestão por competências, praticada pelas empresas, afeta as relações de trabalho tanto dentro das corporações - como os bancos - como nas negociações coletivas. A gestão por competências envolve a avaliação de características como organização, liderança, visão de negócio, trabalho em equipe, multifuncionalidade, dentre outros. Falta integrar formação e educação Uma das conclusões tiradas do estudo é que, no Brasil, uma política pública que integre a formação profissional ao sistema nacional de educação é ausente. Essa função, segundo Amorim, está relegada a escolas como o Sesi e o Senai - administradas pela iniciativa privada - ou a universidades corporativas. "Ao trabalhador cabe a ideia de que ele próprio deveria se preocupar com seu desenvolvimento profissional, o que cabe no discurso da individualização do contrato de trabalho. É cada um por si e, de maneira geral, os governos e as empresas ficam distantes desse processo", explica. Dentro do sistema financeiro, o professor traçou um paralelo entre as décadas de 1990 e 2000. Na última década do século 20, Amorim lembra que houve uma redução drástica na quantidade de bancários, decorrente das políticas neoliberais, como as privatizações dos bancos estatais, fusões de bancos e enfraquecimento do movimento sindical, por exemplo. Já os anos 2000 foram marcados, de acordo com Amorim, pelo aumento da renda dos trabalhadores e a retomada dos níveis de emprego. "Do ponto de vista coletivo, houve aumento do poder dos sindicatos. Se você tem elevação do número de trabalhadores, a pressão pelo salário se torna positiva e é por isso que os aumentos reais se sucederam. Não é por outra razão que houve greves desde 2002", avalia o pesquisador. Amorim ressaltou que nesse meio tempo o trabalho dentro dos bancos mudou, e um aspecto relevante para essa mudança é a exigência para a qualificação. "A gestão de competência baliza a carreira do bancário. Ele só vai subir de cargos dentro do banco se tiver determinadas competências adquiridas por meio de certificações, cursos, faculdades ou programas de desenvolvimento interno do banco", diz Amorim. Os perigos da "gestão por competência" De acordo com dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que representa as instituições que atuam no mercado de capitais brasileiro, desde 2003 foram realizados mais de 518 mil exames para certificação, como o CPA-10 - que permite aos bancários comercializar e distribuir produtos de investimento para o público investidor -, o que prova a avidez dos bancários pela formação específica e dos bancos pela gestão de competência. O pesquisador acrescenta que algumas instituições financeiras, como o Bradesco e o Banco do Brasil, já estão se preparando para a realidade da gestão de competências com cursos para os seus funcionários. "A gestão de competências formata a carreira do indivíduo porque ela mexe no desenvolvimento, nas características que são descritas para a contratação do sujeito, e em algum momento, a empresa ainda vai fazer uma avaliação de desenvolvimento", explica. Para Amorim, a principal conclusão tirada do estudo é que a certificação resulta de uma negociação setorial exclusiva dos bancos e que exclui o trabalhador. "É estranho que a gestão de competência envolva meio milhão de trabalhadores, que afete o mercado de trabalho e o processo de carreira dentro das instituições financeiras e, no entanto, o movimento sindical e os trabalhadores sejam alijados das decisões que envolvam esse tema", conclui o pesquisador. Adoecimentos O psicólogo Roberto Heloani, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o adoecimento da categoria, uma consequência do assédio moral e do isolamento do trabalhador, causado pelas novas formas de trabalho. Heloani abordou vídeo do Sindicato dos Bancários da Paraíba, exibido antes do debate, e que traz o depoimento de uma funcionária do Banco do Brasil, demitida depois de 26 anos de dedicação à empresa. "A pessoa sacrifica sua vida pessoal, seus entes queridos por amor à empresa e se sente traída quando não vê o reconhecimento do seu trabalho. A traição é uma das formas mais efetivas de sofrimento e causa adoecimento, como a depressão", explicou o psicólogo. Segundo ele, a demissão de um funcionário dedicado causa medo a todos na empresa e transforma o ambiente de trabalho em um local ideal para a prática do assédio moral, já que todos sentem que podem ser os próximos desligados. "É dever do empregador cuidar do bem- estar de seus colaboradores, mas para os bancos é comum banalizar algumas práticas abusivas, com insultos, processos de avaliação sem critérios, além disso, vale qualquer coisa para atingir a meta", criticou. Heloani também denunciou o alto índice de suicídios de bancários e alertou para os perigos causados pelas novas formas de trabalho e as novas tecnologias, que deixam as pessoas isoladas. "Cada vez mais o trabalho é feito de forma burocratizada e impessoal, o que deixa as pessoas cada vez mais sozinhas e propícias a doenças psíquicas." Ele explicou que quando as pessoas estão em grupo, têm "proteção psíquica", pois ao sinal de ameaças de alguma crise depressiva, o grupo "abraça". "A prática isolacionista aos poucos faz com que as pessoas se vejam como inimigos e contamina todas as relações, inclusive as pessoais." Rede de Comunicação dos Bancários Juliana Satie e Rodolfo Wrolli

A precarização do trabalho, que será inevitável se o projeto de lei 4330 em tramitação na Câmara dos Deputados for aprovado, e intensificação do uso de novas tecnologias pelo sistema financeiro são as grandes ameaças imediatas para o emprego e para os direitos trabalhistas dos bancários. Essas foram, em síntese, as advertências dos palestrantes do painel Terceirização e Reestruturação Produtiva do Setor Financeiro, o terceiro da 15ª Conferência Nacional dos Bancários, que começou nesta sexta 19 e vai até domingo. Participaram da mesa o secretário de Organização da Contraf-CUT, Miguel Pereira, o pesquisador Moisés Marques, professor e coordenador do Centro de Pesquisas 28 de Agosto do Sindicato de São Paulo, e a economista Vivian Rodrigues, da subseção do Dieese da Contraf-CUT. "As transações virtuais já superam em quantidade as transações tradicionais", destacou Moisés. Segundo dados da própria Febraban, em 2008 18% das operações bancárias eram feitas nas agências, 33% nos terminais de autoatendimento e 30% pela internet. Em 2012, pela primeira vez, as transações via internet (39%) superaram até mesmo as realizadas em caixas eletrônicos (26%), enquanto que as feitas em agências caíram para 11%. Outro dado citado por Moisés mostra que o número de bancários por agência diminuiu: a média era de 36,62 por unidade em 1990; em 2011 foi reduzida para 24,11. "Índice de eficiência" ou corte de custos O pesquisador destacou ainda a aposta dos bancos no índice de eficiência. "Com a queda da taxa básica de juros, os bancos privados estão apostando no corte de custos", disse, acrescentando que hoje uma transação via internet custa cerca de 100 vezes menos do que uma transação na agência. Ele citou ainda o uso de celulares para pagamento de contas, previsto pelo governo por meio de medida provisória (MP 615). Segundo Moisés, essa nova tecnologia permite a "inclusão" financeira sem necessariamente ampliar a inclusão bancária, já que as classes D e E, que têm celular, continuarão com restrições que as impedem de abrir conta em banco. De acordo com o pesquisador, nesse novo cenário - com maioria de operações virtuais, investimentos em softwares que vão permitir ao banco formatar o perfil de cada cliente sem que o bancário tenha visto seu rosto, agências cada vez menores e menos funcionários -, o emprego já está em transformação. "Acredito que os chamados cargos de front office, ou seja, de bancários que atendem o cliente pessoalmente, vão diminuir consideravelmente, enquanto que haverá crescimento nos cargos de back office, de retaguarda. E o perfil desse bancário, que vai lidar com tecnologia, é jovem e ambicioso, é de um trabalhador que vai querer lidar com as metas determinadas pelo banco. O grande desafio dos sindicatos será mobilizar. Se os bancos estão buscando eficiência operacional, os sindicatos têm de buscar a eficiência na luta e na organização". "PL permite subcontratações infinitas" O secretário de Organização da Contraf-CUT, Miguel Pereira, lembrou que, até então, na ausência de uma legislação específica, a referência que se tem sobre a terceirização no Brasil é a Súmula 331 do TST. "Mesmo com todos os problemas que a Súmula apresenta, permitindo a terceirização das atividades-meio, ela ainda põe um limite, proibindo a terceirização das atividades-fim e a intermediação ilegal da mão-de-obra", afirmou. "O substitutivo do deputado Arthur Maia (PMDB-BA), atual texto do PL 4330, autoriza toda e qualquer atividade a ser terceirizada, sem limites, seja no setor público ou privado, rural ou urbano. Mesmo com o conceito de empresa especializada - ainda sem conceituação jurídica -, permite subcontratações infinitas. Ou seja, trata-se de uma reforma trabalhista", esclarece Miguel. Segundo o dirigente da Contraf-CUT, o PL traz de volta a figura da Pessoa Jurídica (PJ) da vetada Emenda 3 e subdivide os trabalhadores, já que não garante os mesmos direitos da categoria preponderante aos terceirizados, ainda que trabalhando no mesmo ambiente exercendo as mesmas atividades. "Há também no texto uma única exceção à especialização: os correspondentes bancários, que serão legalizados e legitimados", acrescenta. Miguel Pereira alertou para as consequências devastadoras da aprovação do PL 4.330/04: "Em primeiro lugar, os 45 milhões de trabalhadores contratados diretamente hoje poderão virar prestadores de serviço, sem garantias de salários e direitos. Mais do que isso, os 12 milhões de terceirizados que já existem continuarão com seus empregos precarizados. Ou seja, trata-se de uma proposta que não atende os trabalhadores em nenhuma escala". Por todos estes motivos, o embate político contra a proposta não é nada fácil. De acordo com o secretário da Contraf-CUT, a aprovação é tão estratégica para o empresariado, sobretudo do setor financeiro, que as negociações têm sido conduzidas pelo diretor da Febraban, Magnus Apostólico, que tem se mostrado irredutível em alterar o texto. "Só há uma possibilidade de vitória: a mobilização" Para finalizar, Miguel Pereira relatou a pauta das centrais sindicais e a atuação dos trabalhadores organizados para a sua derrubada, com destaque para a categoria bancária. A pauta é composta por cinco pontos: informação prévia; proibição da terceirização de atividades-fim; igualdade de direitos, tratamento e salarial para os terceirizados; responsabilidade solidária; e punição das empresas infratoras. Antes de junho, as centrais estavam atuando com a intenção de evitar a votação, negociar alterações e impedir a precarização dos empregos. Após as mobilizações dos trabalhadores, nas quais os bancários tiveram participação de destaque, os esforços foram redobrados na tentativa de derrotar o PL. "Muita coisa já foi feita neste curto espaço de tempo: fomos a Brasília três vezes, houve três reuniões de negociação da mesa quadripartite e, no dia 10 de julho, conseguimos retirar da pauta da CCJC a votação do projeto", lembrou. Com o adiamento da votação, quatro novas rodadas de negociações foram marcadas -- para os dias 16, 22 e 29 de julho e 05 de agosto --, as centrais sindicais também agendaram duas novas datas de mobilização: 06 e 30 de agosto. Há ainda a possibilidade do PL 4.330/04 ser votado no dia 13 de agosto. "E nós temos uma única possibilidade de vitória: mobilização neles!", encerrou Miguel Pereira. Rede de Comunicação dos Bancários Andrea Ponte Souza e Renata Ortega

A política de demissões e a alta rotatividade nos bancos privados está achatando o salário médio dos bancários, apesar de as campanhas vitoriosas terem conquistado ganhos salariais acima da inflação. A preocupante comparação foi feita pelo economista Nelson Karam, coordenador de educação sindical e diretor da Escola de Ciências do Trabalho do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em exposição realizada nesta quinta-feira, primeiro dia da 15ª Conferência Nacional dos Bancários. Segundo Karam, que fez a apresentação no Painel sobre Remuneração e Emprego, a luta dos bancários rendeu 85,3% de reajuste salarial desde 2004, valor 16,2% acima da inflação. No piso, a valorização foi ainda maior: 116,2% de aumento, 35,6% a mais que a inflação. "Entretanto, é preciso observar que a remuneração média dos bancários hoje é menor que em 2000", afirma. Há treze anos, o salário médio dos bancários era de R$ 4.961,77. Em 2011, último dado disponível, a remuneração média caiu levemente para R$ 4.743,59. A estagnação do salário médio é causado pela política de rotatividade dos bancos, que demitem funcionários com maiores salários e contrata novos bancários com ganhos menores. "E o pior é que nos últimos anos o ritmo das contratações não está acompanhando o das demissões", disse. Concentração de renda Enquanto a remuneração média dos bancários segue estagnada, o lucro dos bancos cresceu espantosos 128% de 2002 para cá. A parte conquistada pelos funcionários nesta lucratividade também caiu. Em 2002, os bancários ficavam com 43% do lucro, enquanto os acionistas abocanhavam 34%. Em 2011, a parte dos funcionários caiu para 38%, enquanto a dos acionistas subiu para 40%. Hoje, um executivo da diretoria do Itaú ganha 234,27 vezes mais que um funcionário recebe com o piso. No Santander, o executivo ganha 145,67 vezes o piso. E essa desvalorização dos bancários é inversamente proporcional ao aumento do trabalho nos bancos. Considerando apenas um dos indicadores de produtividade, cada bancário abria 83 contas correntes em 1996. Em 2011, eram 302 contas abertas por cada bancário. Isso mostra que o trabalho aumentou, mas a parte que o empregado recebe do lucro caiu", explica Karam. O economista defendeu que os bancários incluam nos debates da campanha nacional os chamados ganhos de produtividade, que levam em consideração não somente o crescimento dos lucros, mas também o aumento da produtividade no setor e dos ganhos dos executivos dos bancos. Aumento da terceirização preocupa Segudo Nelson Karam, apesar do crescimento no saldo do emprego do setor bancário nos últimos dez anos, tem crescido muito o número de trabalhadores terceirizados, em função da ampliação dos correspondentes bancários. Em 2003, havia pouco mais de 36 mil trabalhadores terceirizados nos bancos. Em 2012, o número saltou para mais de 332 mil. Karam enfatiza que a situação poderá se agravar, caso seja aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), o Projeto de Lei 4330, que escancara as terceirizações, inclusive em atividades-fins. "A regulação das terceirizações proposta por esse projeto não interessa à classe trabalhadora", disse. Ampliação de crédito Outro dado que preocupa, segundo o especialista, é que apesar do saldo médio do emprego ter crescido 24% de 2000 a 2011, nos últimos meses, os números revelam uma retração. Na opinião de Karan, esta situação pode ser revertida não somente em função da alta lucratividade do setor, mas também devido ao potencial de ampliação do crédito. "Há um grande potencial a ser explorado no mercado brasileiro. O país carece de crédito em setores sociais, como o imobiliário e de saneamento básico, por exemplo", afirma. Para ele, o crescimento do emprego nos bancos públicos, especialmente na Caixa Econômica Federal, é um exemplo de que é possível expandir as contratações e continuar ampliando os lucros. Karam lembra que de março de 2012 a março de 2013 os bancos privados apresentaram redução de postos de trabalho, o que não ocorreu no Banco do Brasil e principalmente na Caixa. O Itaú apresentou saldo negativo de 6.679 no período e o Bradesco, 2.309. Já a CEF apresentou saldo positivo de 7.423 e o BB, de 261. No Brasil, o crédito chega a alcançar 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Houve um crescimento a partir da política de redução de juros do governo. Mas o índice ainda é bem inferior ao dos países mais desenvolvidos. Nos EUA, a relação entre crédito privado e PIB é de 191% e na Inglaterra, de 186%. Na opinião do economista, o problema é que os bancos brasileiros preferem o ganho fácil proporcionado pelos juros altos do que ampliar o crédito para investimentos sociais. Inflação sob controle Para Karan, o discurso de que a inflação está fora de controle, disseminado na mídia, interessa aos bancos, que ganham com a elevação das taxas básicas de juros. "A inflação hoje está localizada em alguns setores e não é fruto do aumento do consumo. Além disso, os preços elevados são também resultado da concentração e dos oligopólios observados em alguns setores da economia, como bancos e supermercados", ressaltou.

Nova pesquisa nacional revela que 30 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos no primeiro semestre de 2013, uma média de cinco vítimas fatais por mês, o que representa aumentos de 11,1% em relação aos seis primeiros meses de 2012, quando foram registradas 27 mortes, e de 30,4% em comparação a igual período de 2011, que teve 23 mortes. O levantamento foi feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com base em notícias da imprensa e apoio técnico do Dieese. O lançamento da pesquisa ocorreu nesta sexta-feira, dia 19, durante a 15ª Conferência Nacional dos Bancários, que está sendo realizada no Hotel Holiday Inn, no Parque Anhembi, em São Paulo, com 674 participantes, que definirá no domingo, dia 21, a pauta de reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários 2013. > Clique [highlight]aqui[/highlight] para acessar a pesquisa completa. São Paulo (14), Rio de Janeiro (5), Bahia (3) e Rio Grande do Sul (3) foram os estados com o maior número de casos. A principal ocorrência (60%) foi novamente o crime de "saidinha de banco", que provocou 18 mortes. Já os clientes foram outra vez a maioria das vítimas (21), seguido dos vigilantes (4). Um gerente do Banco do Brasil foi morto no Piauí. Para a Contraf-CUT e a CNTV, essas mortes comprovam, sobretudo, a escassez de investimentos dos bancos na melhoria da segurança. Segundo dados do Dieese, os seis maiores bancos (Itaú, BB, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) obtiveram lucros de R$ 51,4 bilhões em 2012. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 3,1 bilhões no mesmo período, o que significa 6,1%, em média, na comparação com os lucros. São números preocupantes que apontam a negligência dos bancos na proteção da vida de trabalhadores e clientes, bem como mostram a fragilidade da segurança pública, pois faltam mais policiais e viaturas nas ruas e ações de inteligência para evitar ações criminosas. Essas mortes reforçam a necessidade de atualizar a lei federal nº 7.102/83, que está completando 30 anos e se encontra defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade. Há um projeto de estatuto de segurança privada, que está em análise no Ministério da Justiça. Precisamos de uma nova legislação que tenha mais equipamentos de prevenção e medidas eficazes para garantir a proteção da vida, eliminar riscos e propiciar segurança para trabalhadores e clientes. Mortes por estados São Paulo registra quase a metade das ocorrências (14), o que representa 46,67% das mortes. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar com 5 casos (16,67%). Tipos de ocorrências O levantamento aponta que os crimes de "saidinha de banco" seguem liderando as ocorrências, tendo causado 18 mortes, o que representa 60% dos casos. Em segundo lugar aparecem as mortes em assaltos a correspondentes bancários, com 5 mortes (17%). Na terceira posição estão os assassinatos em assaltos a agências, com 4 vítimas fatais (13%). A Contraf-CUT e a CNTV defendem ações preventivas que visem enfrentar a "saidinha de banco".Esse crime tem início dentro dos bancos e, para combatê-lo, é preciso evitar a ação dos olheiros na hora do saque, através de medidas simples e viáveis como a instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, e de divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos. Proibir o uso do celular nos bancos é uma medida ineficaz, pois não impede a visualização das operações. Além disso, é fundamental a colocação de portas de segurança com detectores de metais antes do autoatendimento, câmeras internas e externas de monitoramento em tempo real nos espaços de circulação de clientes e vidros blindados nas fachadas. Outra medida defendida por bancários e vigilantes é a isenção das tarifas de transferência de recursos (DOC, TED), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça. Muitos clientes sacam valores expressivos para não pagar as altas tarifas dos bancos e viram alvos de assaltantes cada vez mais atrevidos. O crescimento das mortes em assaltos a correspondentes não surpreende. Os bancos estão empurrando cada vez os clientes para esses estabelecimentos que não possuem bancários nem vigilantes, precarizando o atendimento, aumentando o risco e causando a morte de pessoas. Perfil das vítimas A pesquisa revela que 21 clientes foram mortos no 1º semestre deste ano, sendo as principais vítimas em assaltos envolvendo bancos, o que representa 70% das ocorrências e um aumento de 40% em comparação ao mesmo período do ano passado. Quase todos foram assassinados em "saidinhas de banco". Os bancos não podem tratar a "saidinha de banco" como problema de segurança pública ou terceirizar a responsabilidade para os clientes. Os bancos têm que adotar medidas concretas para garantir prevenção contra esse crime que está tirando a vida de pessoas porque sacaram dinheiro em condições inseguras e precárias. Os vigilantes ocupam o segundo lugar com 4 vítimas fatais. Um bancário também foi morto. Os bancos e as empresas de vigilância têm que ampliar equipamentos de prevenção e oferecer melhores condições de trabalho, pois é inaceitável que os trabalhadores continuem morrendo por falta de investimentos na proteção da vida. Gênero das vítimas A pesquisa aponta também o gênero das vítimas, mostrando que os homens (28) são os que mais morrem em assaltos envolvendo bancos, o que representa 93,3% dos casos. Geralmente os homens sacam quantias maiores de dinheiro, são também maioria nas atividades de segurança, estão mais expostos ao risco e reagem mais à ação dos assaltantes. Os bancos e as autoridades de segurança pública têm que tomar providências para evitar essas tragédias. Faixa etária das vítimas A pesquisa também revela ainda a faixa etária das vítimas, na sua maioria identificada nas notícias da imprensa. Não há uma faixa que chame mais a atenção, na medida em que os números ficaram muito próximos. Esses dados mostram que todas as faixas etárias correm risco de morte em assaltos envolvendo bancos. Além do mais, o atendimento bancário é uma atividade de risco. Os bancos têm que assumir a sua responsabilidade para proteger a vida das pessoas e mudar essa triste realidade. Carência de investimentos dos bancos Conforme estudo feito pelo Dieese, com base nos balanços publicados de 2012, os seis maiores bancos lucraram R$ 51,4 bilhões e tiveram despesas com segurança e vigilância de R$ 3,1 bilhões. Comparando os números, os bancos gastaram 6,1% dos lucros em segurança e vigilância. Esses dados dos balanços comprovam mais uma vez o que verificamos há muito tempo: os bancos não priorizam a proteção da vida, pois gastam muito pouco com segurança em comparação com os seus lucros gigantescos. Esperamos que essas mortes alertem os bancos para a necessidade de tratar as despesas de segurança e vigilância não como custos e sim como investimentos, colocando a vida das pessoas em primeiro lugar, garantindo atendimento decente para todos os clientes e usuários, o que deve ser prestado em condições seguras e protegidas. Bancos multados pela Polícia Federal Além das mortes, os bancos também agem com descaso no cumprimento da lei federal nº 7.102/83. No primeiro semestre de 2013, a Polícia Federal multou 19 bancos em R$ 8,803 milhões por falhas na segurança de agências e postos de atendimento bancário, durante reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP), em Brasília. As principais infrações foram número insuficiente de vigilantes, alarmes inoperantes, planos de segurança não renovados, transporte de numerário feito por bancários, falta de detector de metais portátil e cerceamento da fiscalização de policiais federais, dentre outras itens. Houve também aplicação de multas e penalidades contra empresas de segurança, vigilância, transporte de valores e cursos de formação de vigilantes. Fonte: Contraf-CUT

Trabalhadores do setor financeiro de todo o Brasil, juntamente com 20 representantes do Sindicato dos Bancários do ABC, estão reunidos a partir desta sexta-feira para a 15ª Conferência Nacional dos Bancários, que segue até domingo (21/7). Os participantes debatem durante todo o dia os temas sobre: condições de trabalho; remuneração e emprego;reestruturação produtiva no sistema financeiroe reforma política. "É enriquecedor participar desta Conferência, pois além da categoria definir as prioridades para a Campanha Nacional, compartilhamos conhecimentos em diversos setores bancários”, destaca Eric Nilson, presidente do Sindicato. Abertura A abertura solene da Conferência está marcada para às 19 horas desta sexta-feira (19/7). O evento continua neste sábado (20/7), com uma análise de conjuntura na parte da manhã e depois com trabalhos em grupo, à tarde, discutindo temas relacionados à emprego, reestruturação produtiva no sistema financeiro, remuneração e condições de trabalho. No domingo (21/7), haverá definição da pauta de reivindicações da categoria a serem encaminhadas à Fenaban pelo Comando Nacional dos Bancários.

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