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Impactos sobre a categoria bancária após 2016

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O golpe que tirou Dilma Roussef da presidência foi seguido de mudanças que atingiram fortemente os trabalhadores, entre eles os bancários e o ramo financeiro. Confira e se prepare para a campanha 2022

 

Impactoseconomicos16a22O 6º congresso da Contraf-CUT, encerrado no domingo, 3 (leia cobertura no site do Sindicato) contou com o painel ´Retrato dos Bancos e dos Bancários´, elaborado pela equipe do Departamento Intersindial de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É um mapeamento da categoria e do ramo financeiro que revela o forte impacto das mudanças ocorridas a partir 2016 (quando ocorreu o ´impechment´ da presidenta Dilma Rousseff) sobre os bancários.

O estudo foi apresentado pelo economista Gustavo Cavarsan, da subseção do Dieese na Contraf-CUT. Segundo ele, com a reforma trabalhista feita logo após o golpe de 2016, não houve qualquer melhora nos índices no mercado de trabalho como havia sido prometido pelo grupo que se apropriou do poder.

O dado mais significativo é revelado pelos desocupados maiores de 14 anos, que só aumentaram: no quarto trimestre de 2021 incluía 12,01% de trabalhadores, tendo batido o pico no início daquele ano, com 15,25 %. O menor patamar foi registrado no quarto trimestre de 2013, durante o governo de Dilma: apenas 6,15%, próximo do considerado emprego pleno.

Bancários

Para os bancários também vêm sendo anos difíceis após tantas mudanças negativas: em 2019, pela primeira vez na história, a categoria passou a representar menos da metade do emprego formal no ramo financeiro. Em 1994, eram 80%; em 2012, 59%; e em 2019, 47%. Nesse ano mais recente havia 454,6 mil profissionais, com renda média de R$ 8,35 mil, sendo 76% com ensino superior.

A categoria também se mostra marcada pelo traço do racismo, pois 72,7% do total eram pessoas brancas, 20,4% pardas e apenas 3,3% pardas. “Isso é importante porque a categoria bancária representa o núcleo central do ramo financeiro, com sindicalismo forte e capaz de exigir acordo coletivo consistente, inclusive com cláusulas sociais”, observou Cavarsan.

Cenário

O estudo também apontou perspectivas para a categoria. Desde 2013 houve o fechamento de 83 mil vagas, sendo 63 mil delas a partir de 2016. São dados que refletem a tendência desse mercado profissional identificada pelo Dieese: a redução drástica do contingente da força trabalho, generalizada no País o estreitamento da base da pirâmide ocupacional (afetando mais os trabalhadores que historicamente têm um vínculo mais forte com a sindicalização); a “gerencialização” da categoria, o surgimento de bancos digitais e o crescimento do teletrabalho.

Esses dados negativos decorrem do fechamento de mais de cinco mil agências físicas no País, que passou de 22,9 mil em 2019 para 17,8 no ano passado. “Esse é um movimento ocorre em todo o país, onde cada unidade da federação teve redução de no mínimo 10% de agências”, pontuou o economista.

Perfil

Outra tendência é mudança no perfil da categoria. Além de diminuir como um todo, houve “o alargamento nos níveis gerenciais, com redução dos níveis mais baixos de ocupação”, segundo o técnico do Dieese. De 2003 para 2019 os escriturários caíram de 43% para 29% e os gerentes saltaram de 19% para 23%, por exemplo.

Teletrabalho

A partir de pesquisas específicas sobre o teletrabalho, o Dieese também identificou vários problemas. Ao serem lançados nessa modalidade, sem planejamento, os bancários passaram a enfrentar, entre outros problemas, falta de estrutura adequada e equipamentos, aumento descontrolado da jornada, isolamento, questões de saúde, aumento de custos e ausência de auxílio financeiro.

No entanto, ainda assim, 80% da categoria se manifestou dizendo que prefere atuar em home office, total ou parcialmente. “Isso significa que o teletrabalho vai seguir na categoria, não em 50% como foi na pandemia, mas é uma tendência”, observou Cavarsan.

Ramo financeiro

O ramo financeiro, sem considerar a categoria bancária, teve um saldo positivo de 118 mil empregos, de 2013 a 2020. Assim, no setor como um todo, considerado o fechamento de 82,7 mil postos pelos bancos, houve um acréscimo de 35,2 mil vagas.

Entre esses profissionais contratados, estão securitários, corretores e operadores de atividades auxiliares, que são os que não têm exatamente função definida, e em grande parte atuam nas chamadas fintechs. Como frisou o economista, é importante destacar que, “embora esses trabalhadores atuem de forma similar aos bancários, eles enfrentam condições mais precárias, com rendimentos menores e menos garantias”.

Essa degradação das condições está diretamente associada a mudanças no setor, que afetam as relações com os trabalhadores. Se o número de agências foi reduzido, os correspondentes bancários só cresceram desde então.

Em dezembro de 2014 eram 208,3 mil (enquanto as agências físicas eram 23,1 mil) e agora são 233,6 mil (agências, 17,5 mil). Assim, como avalia Cavarsan, “quando os bancos dizem que estão migrando sua estrutura física para o digital, na verdade estão transferindo essa atividade para outras pessoas jurídicas; esse atendimento, como mercados e lojas”.

Setor financeiro

Com essa nova formatação que o setor vem ganhando, hoje 11,6% dos ocupados no setor financeiro já trabalham por conta própria: desde 2013 o contingente saltou de 60 mil para 157 mil, um crescimento de 160%.

Do total do setor 60,3% são empregados pelo setor privado com carteira assinada, 6,5% militares ou servidores estatutários e 8,7% do setor público, mas contratados pela CLT.

O número de agentes autônomos de investimento também cresceu 200% desde 2016, e saltou de 6 mil para 18,1 mil no ano passado. Esses profissionais têm característica próprias: trabalham tanto como pessoa física ou jurídica, distribuem produtos de investimentos das corretoras (como XP, BTG e outras), recebem apenas comissão, trabalham em regime de exclusividade, possuem uma associação e atuam numa espécie de ensaio para a plataformização do trabalho no setor financeiro.

Ou seja, são profissionais que não têm contrato, não tem jornada nem salário. “As corretoras, como a XP, que não têm nenhum compromisso com as questões de trabalho, falam abertamente que esse é um sistema mais barato”, lembrou o técnico do Dieese.

Fintechs

Além das corretoras, a degradação do trabalho no ramo financeiro ocorre pela atuação das chamadas fintechs, que atualmente são cerca de 10 mil no Brasil, sendo apenas 10% delas regulamentadas pelo Banco Central. Há cerca de 60 mil trabalhadores.

Elas se reivindicam plataformas, e isso indica que boa parte de seus trabalhadores atua de forma ‘uberizada’. Essas entidades exigem experiência para contratar os terceirizados; ou seja, querem aproveitar os trabalhadores demitidos pelos bancos. São os personal bankers, que trabalham como microempreendedores individuais e têm de pagar uma taxa para as chamadas fintechs, que não são bancos, mas terceirizam trabalho para bancos do mercado.

“Ou seja, os personal bankers se cadastram como MEIs, trabalham para essas plataformas, que servem aos bancos, e fazem o mesmo trabalho que faziam como assalariados, porém sem nenhuma garantia trabalhista”.

Panorama geral

O emprego com contrato pela Consolidação das Leis Trabalho (CLT) se manteve quase estático, mas reduziu, enquanto a demanda por trabalho aumentou. O ponto mais crítico foi atingido no terceiro trimestre de 2020, com 30,8 milhões de trabalhadoras e trabalhadores contratados. Melhorou até o final de 2021, alcançando 34,4 milhões, mas ainda continua inferior ao melhor momento, entre 2013 e 2014, também no governo Dilma, quando estava próximo dos 38 milhões.

Segundo destacou Cavarsan, nesse período a expansão da ocupação ocorreu exatamente nos setores mais precários, em que os trabalhadores se encontram em situação mais desprotegida, ou seja, sem carteira assinada. Se no terceiro trimestre de 2012 o contingente que trabalhava por conta própria era de 19,8 milhões, no mesmo período do ano passado bateu na casa do 25,9 milhões, conforme dados apresentados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Aí estão incluídos casos clássicos como motoristas e entregadores por aplicativo, sem nenhum tipo de garantia; essa é a lógica do mercado de trabalho que também se reproduziu no setor financeiro”, esclareceu o economista do Dieese.


A apresentação do estudo contou com a participação dos secretários da Contraf-CUT Luiz César de Freitas, o Alemão (Finanças, mediador), Jeferson Meira (Relações do Trabalho), Elaine Cutis (Mulher) e Almir Aguiar (Combate ao Racismo).

Campanha 2022

Para o presidente do nosso Sindicato, Gheorge Vitti, o estudo revela o grande desafio que a categoria bancária deverá enfrentar nesse ano durante a campanha nacional. “Temos uma economia em crise, com aumento da inflação, achatamento salarial e precarização das condições de trabalho. Garantir o emprego, direitos e salários é nossa prioridade, mas para isso cada bancário e bancária precisa participar das mobilizações e estar disposto a ir à luta”, aponta Gheorge.

Leia a apresentação completa do Dieese em:

https://contrafcut.com.br/wp-content/uploads/2022/04/painel-2-mapeamento-dos-trabalhadores-e-trabalhadoras-do-ramo-financeiro-gustavo-cavarzan-2-3.pdf

Redação, com informações da Contraf-CUT

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