Jovem e negro, Marcelo tinha 21 anos e foi morto a tiros pelo proprietário do imóvel onde ele morava em Mauá, no ABC Paulista. Movimentos sociais organizam vigília de solidariedade à família
São Paulo – Jovem, negro e imigrante venezuelano, Marcelo Antonio Larez González, de 21 anos, foi morto a tiros no dia 3 de fevereiro pelo locador do apartamento onde ele morava, durante uma briga por conta de uma dívida de R$ 100. Segundo a polícia, o crime aconteceu por volta das 20h30, no Jardim Oratório, em Mauá, na Grande São Paulo.
O boletim de ocorrência aponta que policiais militares foram acionados ainda durante a discussão entre a vítima e o proprietário do imóvel, um homem de 41 anos. Na briga, o locador atirou contra Marcelo, atingindo-o no peito. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou a morte no local. O caso foi registrado como homicídio qualificado no 1º Distrito Policial da cidade do ABC Paulista. O suspeito fugiu em seguida, mas segundo a Polícia Civil ele foi preso na última terça-feira (8). A identidade dele não foi revelada.
No apartamento onde foi morto, Marcelo González morava com a mulher, os quatro filhos, a sogra, a avó da mulher e um irmão com deficiência auditiva, todos venezuelanos. Em um vídeo divulgado pela família, os pais do jovem, que não moram no Brasil, pediram justiça. “Nosso filho era um filho exemplar, ele se dedicava a trabalhar para manter sua família”.
Investigação na Alesp
O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Emídio de Souza (PT), enviou ofício à Polícia Civil cobrando uma investigação do crime. Segundo o parlamentar, ele irá propor que a comissão também ouça a família de Marcelo González. “Precisa ter uma punição exemplar esse tipo de coisa. (…) Não é possível conviver com esse tipo de violência gratuita, banal, em desprezo à vida como estamos vendo”, contestou o deputado.
O assassinato do jovem venezuelano aconteceu dias após a morte de outro jovem negro e imigrante, Moïse Kabagambe, refugiado congolês de 24 anos, morto a pauladas no Rio de Janeiro por cobrar pelo pagamento de seu salário atrasado no quiosque onde trabalhava, na Barra da Tijuca. Integrante do Movimento Antirracista Dandara – que atua na região do ABC Paulista –, André Santos observa que os casos de Moïse e Marcelo se assemelham, principalmente, pela condição de vulnerabilidade em que os dois se encontravam.
“Quando (os imigrantes) vão trabalhar é de bico, como ambulante. E eles acabam sempre tendo problemas com a GCM, ficam sujeitos a esse tipo de tratamento. E, ao estar nesse tipo de vulnerabilidade, também somada ao racismo e à xenofobia que tem aí pelo país, ficam vulneráveis à violência. Que algumas vezes sequer é noticiada”, aponta Santos.
Campanha de solidariedade
Com medo, a família de Marcelo saiu da casa onde morava e foi acolhida por um vizinho. O ativista Tiago Alves, que também atua junto ao Movimento Antirracista Dandara e coordena a Biblioteca Comunitária Paulo Freire, localizada na região do ABC, diz que foi procurado pelos moradores para entrar em contato e ajudar na criação de uma rede de apoio à família de Marcelo, tanto por meio de doações quanto pelo suporte jurídico.
“No primeiro momento eles tinham uma necessidade inicial de fralda para as crianças, porque ela tem quatro crianças pequenas e agora estão surgindo outras necessidades. Tem um carrinho para o filho com deficiência que estamos querendo arrumar para ajudar a família na locomoção. A gente também iniciou uma campanha nas redes sociais para dar visibilidade ao caso e cobrar justiça. (…) A família indicou que achava interessante ter um advogado acompanhando o caso para que ela fosse informada e entrasse com as medidas que ela achasse correta também”, explica Alves.
As informações sobre como ajudar a família de Marcelo estão disponíveis nas redes sociais do Movimento Antirracista Dandara.
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Fonte: Rede Brasil Atual