Com perdas na operação de varejo no Brasil, o HSBC fechou o primeiro semestre de 2014 no país com um lucro antes de impostos de US$ 55 milhões. A cifra é 64% menor do que o resultado de igual período do ano passado.
Os números foram divulgados nesta segunda-feira (4) pelo HSBC no balanço global. O maior banco europeu por valor de mercado teve um lucro de US$ 9,46 bilhões, ante US$ 10 bilhões em igual período de 2013.
Em relatório, o banco diz que pesou sobre o resultado no Brasil um prejuízo antes de impostos de US$ 129 milhões no segmento de varejo e gestão de fortunas. Na primeira metade de 2013, a área registrou prejuízo de US$ 117 milhões.
O varejo do HSBC passa por uma reestruturação desde 2011, quando o banco decidiu se focar no crédito apenas para clientes e em modalidades mais seguras, como o empréstimo consignado e o financiamento imobiliário. As modalidades de crédito com mais garantia correspondiam a 29% da carteira de empréstimos do banco no fim de junho, acima dos 22% de igual período de 2013.
O banco está em meio a uma mudança global na forma de incentivar venda de produtos com comissões pagas a gerentes. Esse impacto não é citado nos comentários sobre o Brasil, mas tem afetado a receita no mundo todo.
Além do varejo, o HSBC diz que a operação de atacado também afetou o desempenho do banco no Brasil. O lucro antes de impostos dessa área ficou em US$ 175 milhões de janeiro a junho de 2014, ante R$ 224 milhões em igual período do ano passado. O banco atribui essa redução de 21,9% ao aumento no custo de captação.
O banco ainda não divulgou os números no Brasil no primeiro semestre. Pelos dados do Banco Central, o HSBC teve um prejuízo de R$ 31,1 milhões no primeiro trimestre deste ano. Procurado pela reportagem, o HSBC informou que não comentaria.
Em relatório, o banco diz que mantém o foco na América Latina, principalmente no México, na Argentina e no Brasil. O HSBC afirma, porém, que enfrenta nesses mercados crescimento econômico e dos empréstimos mais lento e pressões inflacionárias.
No mundo, a queda no lucro líquido deveu-se principalmente a um fraco primeiro trimestre, quando os lucros caíram 20% em relação a um ano atrás, quando as receitas foram impulsionadas por vendas de ativos, e reflete receitas perdidas como resultado do fechamento ou venda de empresas.
O HSBC está na segunda fase de um plano de recuperação que começou em 2011, com o objetivo de tornar o banco menos complexo, mais eficiente e capaz de proporcionar melhores retornos para os acionistas. O banco cortou mais de 40 mil postos de trabalho e vendeu ou fechou 60 unidades, o que resultou em uma economia anual de mais de US$ 5 bilhões.
O banco também atribui o desempenho mais fraco a despesas que teve com obrigações regulatórias. As despesas operacionais, excluindo itens extraordinários, subiram 4% no primeiro semestre, "refletindo, em parte, investimentos crescentes em risco, compliance e padrões globais".
O HSBC não deu mais detalhes, mas anteriormente havia informado a contratação de mais de 1.750 funcionários ligados a controles em 2013, com um aumento superior a 50% desde o acordo de US$ 1,9 bilhão fechado em 2012 com autoridades por conta de uma investigação sobre regras para evitar lavagem de dinheiro.
Em um comunicado, o presidente do conselho de administração do HSBC, Douglas Flint, pediu que reguladores internacionais esclareçam o que esperam de funcionários do banco depois que uma recente onda de multas recordes por má conduta ter deixado todos com medo de represálias.
Bancários olham resultados com dúvidas e incertezas
Para o secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, "está evidente que no Brasil o HSBC apresenta dificuldades para disputar o varejo com os demais bancos. Mesmo tendo ainda ativos significativos para classificá-lo dentre os seis maiores bancos que atuam no país, os indicadores vêm piorando progressivamente. Parece que, mesmo após 17 anos atuando no mercado brasileiro, o banco ainda não encontrou seu nicho de negócios".
O lucro líquido, que já não era dos maiores, vem caindo a cada semestre, registrando pela primeira vez prejuízo no 1º trimestre de 2014 de R$ 31 milhões e agora lucro antes dos impostos no 1º semestre de apenas U$ 55 milhões. "O que isso irá significar após os impostos só aguardando a publicação do balanço no Brasil. Aliás, o balanço está sendo aguardado com grande expectativa, porque a matriz londrina anunciou uma capitalização na filial brasileira da ordem de U$ 1 bilhão no semestre. Se isso ocorreu e mesmo assim o resultado é este de apenas U$ 55 milhões antes dos impostos, isso denota que os problemas são maiores ainda", observa Miguel.
"Com esses resultados inexpressivos, na contramão dos demais bancos brasileiros, que batem recordes de lucratividade a cada semestre, as medidas que o banco toma, vão no sentido de cortes de despesas, como o fechamento de agências - 20 só neste ano - e milhares de demissões. O que, a nosso ver, só fragiliza ainda mais o banco frente à concorrência e dificulta a busca de resultados na ponta", analisa o dirigente sindical.
Conforme Miguel, "outra medida, que certamente terá impacto nos resultados finais, foram mudanças unilaterais nos programas de remuneração variável praticados no banco. Além de diversos problemas com relação ao não pagamento aos funcionários participantes, particularmente gerentes, este ano ninguém tem assegurado o quanto irá receber, mesmo tendo alcançado as suas metas. Porque isso depende do resultado da empresa e não há recursos garantidos para esse pagamento, como era anteriormente, onde parte do lucro líquido era reservado para esses pagamentos".
"O fato da crescente pressão para o atingimento dessas metas, vinculado à baixa expectativa de recebimento do pagamento de bônus, pode estar levando a uma crescente insatisfação do segmento gerencial, que provoca queda nos resultados. A falta de funcionários nas agências também é outro fator que dificulta melhor performance do banco inglês. Menos funcionários, menos negócios e piora no atendimento, o que dificulta a retenção dos clientes, e por aí vai", ressalta Miguel.
Mas o que mais preocupa os dirigentes sindicais é a questão do emprego. "O Grupo HSBC ainda emprega cerca de 22 mil trabalhadores diretos, tendo mais de 800 agências em todo o Brasil", conclui o diretor da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT