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Paralisação nacional começa nesta terça. Leia editorial: As razões da greve dos bancários

Campanha Nacional 2015
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Por Belmiro Moreira A categoria bancária inicia nesta terça-feira, 6 de outubro, uma greve nacional por tempo indeterminado. Embora a paralisação tenha como prioridade a luta por conquistas trabalhistas e sociais, esse é também um movimento pela defesa dos direitos dos consumidores bancários, tão explorados quanto os trabalhadores do sistema financeiro e igualmente merecedores de mais respeito. Os bancários reivindicam um reajuste salarial de 16%, sendo 5,7% de aumento real e 9,88% para a reposição da inflação do período. Mas não é só isso: reivindicam, também, condições dignas de trabalho, o que necessariamente passa por contratações de mais funcionários, respeito à jornada de trabalho, fim do assédio moral e mais saúde e segurança. São condições essenciais para que também os clientes e usuários possam usufruir de um melhor atendimento, com menos filas, menos estresse, menos riscos para sua segurança. No entanto, o que os banqueiros ofereceram foi apenas um reajuste salarial de 5,5% (o que não preenche a inflação e representa uma perda real de 4%, e um abono de R$ 2.500, que não incorpora na massa salarial e demais verbas; ou seja, vale apenas para aquele momento. Além disso, não apresentaram nenhum avanço nas questões sociais, relacionadas à saúde e segurança entre outros temas. Simplesmente ignoraram as necessidades de seus trabalhadores e clientes em nome de seus já altíssimos lucros. O adoecimento dos bancários é crescente. No ano passado, em apenas três meses, 4.423 trabalhadores foram afastados por doença, especialmente os transtornos mentais (26.1%). Eles convivem diariamente com uma imensa cobrança pelo atingimento de metas muitas vezes abusivas; há casos frequentes de assédio moral, as doenças por esforço repetitivo têm grande ocorrência (foram 25,3% dos afastamentos, no mesmo período de 2014) e o medo de assaltos e sequestros (inclusive de familiares) é rotineiro. São, ainda, sobrecarregados de trabalho pela falta de funcionários, e tudo isso vai desembocar justamente na qualidade do atendimento ao consumidor bancário. Há bancos, inclusive, que discriminam esse consumidor: caso ele não se enquadre na categoria “especial” (ou seja, com bastante dinheiro na conta), é impedido de entrar na agência, sendo empurrado para o autoatendimento ou para os correspondentes bancários, em geral localizados em comércios ou casas lotéricas sem qualquer aparato de segurança. Só nos últimos seis meses o lucro dos bancos atingiu R$ 36,3 bilhões, o que representa uma alta de 27,3% em relação a 2014. É um setor que sempre passou, e continua passando, bem longe de qualquer crise. E é muito fácil entender de onde vem tanto lucro, já que apenas em tarifas bancárias o crescimento foi de 169%, em três anos, percentual 8,6 vezes superior à inflação do período. O juro do cheque especial, por sua vez, chegou a 253,2% ao ano em agosto, e a alta do cartão de crédito no rotativo atingiu nada menos do que o recorde de 403,5%. Apesar de tanto dinheiro, os bancos continuaram a cortar postos. De acordo com dados do Caged,no acumulado dos primeiros oito meses de 2015 o déficit no setor chegou a 6.003 vagas. Em uma década de lutas (2004-2014) a categoria bancária obteve 20,07% de aumento real e alguns importantes acordos nas condições de trabalho que, como explicado acima, impactam diretamente no atendimento. São melhorias pontuais, mas ainda insuficientes. Juntos, bancários e clientes, temos que conquistar mais e não aceitar retrocessos. Porque, já ensina o mote dessa campanha, exploração não tem perdão. Belmiro Moreira é presidente do Sindicato dos Bancários do ABC