Mesa debateu avanços do programa de formação de mulheres na área de TI e no atendimento a vítimas de violência
O Comando Nacional dos Bancários se reuniu com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) no último 31 de março, na mesa de Igualdade de Oportunidades. O presidente do nosso Sindicato, Gheorge Vitti, participou do encontro.
Entre os pontos da pauta, as ações dos bancos para reduzir a desigualdade salarial e de ascensão entre homens e mulheres; o programa “Mais Mulheres na TI (resultado da negociação do ano passado) e dados de atendimento dos canais de combate à violência de gênero.
Muitas mulheres já foram beneficiadas pelos canais de atendimento contra violência: um total de 1.106, considerando os canais dos bancos e do movimento sindical. Já em relação à formação de mulheres na TI há mais de 1.000 inscritas na primeira fase das bolsas de estudo.
As bancárias também destacaram na mesa o debate de igualdade salarial, de oportunidade e acessão profissional nos bancos. Segundo levantamento do Dieese, a partir de dados oficiais, nos bancos as mulheres recebem, em média, 19% menos que os colegas homens. No recorte racial, o cenário é ainda pior: bancárias negras têm remuneração 34,5% inferior à remuneração média do bancário branco do sexo masculino.
A categoria conquistou, na última renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), o compromisso dos bancos de alcançar a paridade de remuneração entre homens e mulheres. A proposta é que as empresas acelerem o cumprimento da Lei da Igualdade Salarial, de 2023.
Com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) dos últimos 10 anos, o Dieese estima que a categoria bancária poderá alcançar a paridade salarial em longos 46 anos - por isso mesmo, a Lei de Igualdade Salarial é fundamental. “E para que o cumprimento dessa lei ocorra há importantes medidas que defendemos, tais como a forma que os dados são divulgados e organizados pelos bancos”, aponta o presidente do nosso Sindicato.
A lei brasileira de igualdade salarial entre homens e mulheres prevê que estabelecimentos com mais de 100 funcionários devem enviar, periodicamente, ao Ministério do Trabalho e Emprego, informações para o relatório anual de transparência. Os bancários exigem que os bancos divulguem os dados por empresa e não somente por estabelecimento (CNPJ), porque cada banco tem vários CNPJs, e o envio por CNPJ vem dificultando o entendimento do cenário real para a melhor efetividade do planejamento de ações rumo à igualdade de remuneração entre gêneros.
Ficou agendado, para abril, um novo encontro com as áreas de Recursos Humanos (RHs) dos bancos, e não só dos que já participam comissão de negociação. Neste encontro, o Comando Nacional irá apresentar a diferença salarial e de oportunidades e as propostas para alcançar equidade.
Desigualdade é maior nos altos cargos - As bancárias também destacaram, com base em dados do Dieese, o avanço da desigualdade salarial de gênero quanto maiores são os cargos. Enquanto numa função da base, como de escriturários, as mulheres recebem, em média, 96% da remuneração dos homens, nos cargos de dirigentes e gerentes elas recebem 68,9% da remuneração dos colegas homens.
"Já é difícil que mulheres alcancem espaços de liderança e, quando chegam lá, simplesmente recebem menos por uma questão de gênero, porque a função delas é exatamente a mesma dos homens", destacou a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
Mulheres são maioria entre desligados - O Comando Nacional cobrou não só a igualdade salarial de gênero, mas a reversão de queda de mulheres no setor. “Entre 2020 e 2024, o saldo de emprego na categoria bancária foi negativo em 17.066 postos de trabalho”, alertou Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT.
“Nesse período, as admissões foram maiores para homens e os desligamentos muito superiores para as mulheres, fazendo com que o saldo negativo de empregos para os homens ficasse em 730 postos e o das mulheres negativo em 16.336 postos. "Ou seja, mais de 95,7% dos postos de trabalho fechados nos bancos foram os que eram ocupados por mulheres”, completou.
A redução de mulheres também ocorre na área que mais cresce em contratação nos bancos, o da Tecnologia da Informação (TI), onde a representação de mulheres caiu de 31,9% para 25,2%, entre os anos de 2012 e 2023.
"Sem ações afirmativas, com o estabelecimento de prioridades, mentorias e incentivos, não vamos alcançar a correta inclusão e, com isso, a paridade de gênero", afirmou Juvandia. "Foi por isso que negociamos a inclusão de cláusulas, na CCT, para formação de mulheres na tecnologia", observou.
Mais mulheres na TI - Representantes das escolas PrograMaria e Laboratória trouxeram dados da primeira fase do programa “Mais Mulheres na TI”, conquistado pela categoria na última renovação da CCT. O programa prevê um total de 3.100 bolsas para a capacitação de meninas e mulheres.
“Desse total, 1.000 já foram selecionadas pela PrograMaria e 118 pela Laboratória. Essa iniciativa é o resultado efetivo de reivindicações da nossa categoria e estamos muito felizes por esses cursos, em andamento”, destacou Fernada Lopes. “As beneficiadas são mulheres negras, mães, empreendedoras, que estão buscando suas carreiras”, completou a secretária da Mulher da Contraf-CUT.
Uma segunda fase de inscrições será aberta, ainda neste semestre, e divulgada pelo movimento sindical. “A procura foi muito alta, mostrando que existe uma demanda reprimida entre as mulheres que querem, sim, aprender e atuar na área da tecnologia”, pontuou Fernanda Lopes. “Segundo a PrograMaria, as inscrições superaram em 295% a expectativa de buscas pelas bolsas”, completou.
Canais de combate à violência doméstica - Por fim, à pedido do movimento sindical, os bancos prestaram dados sobre outra conquista da categoria na CCT: a oferta de canais de combate à violência doméstica. Segundo a Fenaban, 84% dos bancos já disponibilizam canais de denúncia e acolhimento e outros 11% afirmaram que irão implementá-los em 2025.
“Vamos seguir acompanhando para que esses canais funcionem efetivamente. É importante que as bancárias saibam da existência deles e como buscar essa ajuda. É uma conquista que salva vidas e que, em conjunto com os canais de atendimento dos sindicatos, que é o 'Basta! Não irão nos calar!', já atendeu 1.161 vítimas”, ressaltou Fernanda Lopes.
Basta! - O Comando Nacional também apresentou dados do programa “Basta!” promovido exclusivamente pelo movimento sindical: desde 2021 foram 14 canais criados em todas as regiões do país e 504 atendimentos.
"Quando negociamos a criação desses canais, em 2020, não fazíamos ideia de que tantas mulheres sofriam com a violência doméstica e sem saber a quem recorrer. Agora, bancos e sindicatos oferecem esses canais de acolhimento e assessoria jurídica", destacou Juvandia.
"Este fato comprova como foi importante os sindicatos terem colocado este tema em pauta na CCT e isso porque muitas bancárias perdiam empregos em decorrência da violência doméstica. Agora, com ajuda dos sindicatos e dos bancos, elas podem romper esse ciclo de violência e de prejuízos", pontuou.