Taxa vai a 13,25%, inviabilizando crescimento do País; movimento sindical repudia decisão do Copom e destaca necessidade de mobilização
Mesmo sob novo comando, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, confirmou nova elevação da taxa Selic, dificultando o crescimento econômico do Brasil e com impacto nos financiamentos, empréstimos, emprego e custo de vida. A decisão aumentou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros brasileira, atingindo a marca de 13,25% ao ano.
Entidades representativas dos trabalhadores reagiram ao aumento. A CUT divulgou nota apontando que “Não há outra palavra para caracterizar mais este absurdo do que frustração, pois esperávamos que sob o comando de Gabriel Galípolo houvesse uma reversão neste processo”. Já a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira destacou que com a decisão Galípolo mostra que o Copom é refém do mercado financeiro. “O Banco Central tem que ser autônomo em relação aos interesses do mercado financeiro e servir aos interesses do povo", completou.
O presidente do nosso Sindicato, Gheorge Vitti, lembra que com a Selic alta, por mais que haja empenho do governo federal, setor produtivo e trabalhadores, o aumento da taxa de juros inviabiliza o crescimento e a geração de empregos. Isso porque a Selic funciona como um parâmetro para as demais taxas do mercado. Quando sobe, aumentam também os juros de financiamentos e empréstimos, gerando maior número de endividados. Por outro lado, desestimula os investimentos das empresas e restringe a criação de empregos.
A alta da Selic impacta ainda nos preços dos alimentos, e representa um desafio para o governo subsidiar a produção agrícola a juros mais baixos. A Selic também é o principal índice usado nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional - quanto maior a Selic, maior a remuneração dos títulos públicos. E os principais detentores dos títulos públicos, atualmente, são as instituições financeiras. Como é o governo que emite e portanto paga os juros dos títulos públicos, outra consequência da Selic elevada é a redução de recursos para as políticas públicas. Ou seja: todos perdem, exceto setores que lucram com altos investimentos no mercado financeiro.
“As decisões do Copom deveriam levar em conta essa realidade impactante para a maioria dos brasileiros. Produção x especulação, essa é a decisão de centro que o presidente do Banco Central tem que enfrentar. Para sair dessa pressão dos especuladores seria necessário discutir o endividamento público; ou seja, os títulos da dívida pública que basicamente são remunerados pela taxa Selic”, aponta o presidente do nosso Sindicato, lembrando que, ao final de 2024, as despesas do governo com os juros da dívida pública somavam R$ 918,2 bilhões (acumulado de 12 meses até novembro), um verdadeiro recorde na série histórica.
“Com isso, por mais que possamos produzir, a maior parte do PIB vai para pagar juros e, sendo assim, se não houver um real enfrentamento com o setor especulativo, viveremos tapando o sol com a peneira”, avalia Gheorge, destacando que prossegue a mobilização por uma taxa que possa levar em consideração a produção e o crédito produtivo, desenvolvimentista e sustentável, “onde o trabalhador não pague a conta”.
Inflação - O principal argumento dos membros do Copom para elevar a Selic é controlar a inflação no País: uma inflação de demanda, apontam. Para a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Vivian Machado, é uma falácia. “"Existe um grande erro que se tornou aceito como norma, do uso da Selic como instrumento principal para manter a inflação sob controle”. Citando economistas reconhecidos mundialmente, como o ganhador de Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, Vivian explica que, na verdade, as taxas de juros elevadas aumentam a pressão inflacionária. “E isso porque cada tipo de situação que resulta no aumento de preços tem uma forma de ser combatida. Mas o que o Banco Central brasileiro faz é usar somente uma forma de enfrentar a inflação, independentemente da raiz que ocasionou o aumento de preços", completou.
A Selic demonstra eficiência para controlar a inflação que ocorre pelo aumento da demanda por produtos e serviços, ou seja, quando as pessoas estão consumindo mais e pressionando a oferta. Nos últimos anos, afirma a economista, a inflação brasileira não tem razões num mercado aquecido, e sim em diversos outros fatores como alta dos alimentos por questões climáticas (safras menores por causa de secas e enchentes) e por questão geopolítica, como em 2022, com a guerra entre Ucrânia e Rússia, o que também afetou o preço dos alimentos.
“Tivemos ainda, recentemente, inflação por conta do aumento da energia, que também se deu por causa da seca, ao reduzir as atividades das hidrelétricas. Tudo isso eleva o custo para os produtores no País. Ou seja, o erro está no ponto que o Banco Central justifica tais aumentos na taxa de juros por uma inflação de demanda, quando historicamente temos no Brasil inflação de custos e, quanto maiores os juros, mais caro fica produzir no Brasil", pontua Vivian.