Após o encontro, em reunião do Copom, BC elevou a taxa de juros em um ponto percentual. Controle da inflação era um dos principais objetivos da campanha de Bolsonaro
Duas horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar a reunião de 4 de maio de 2022, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, teve uma agenda secreta com o então presidente Jair Bolsonaro, no gabinete presidencial. À época, Bolsonaro estava em pré-campanha eleitoral e o controle da inflação a todo custo era um de seus objetivos.
Naquele mesmo dia, após a reunião do Copom, o BC elevou a Selic em um ponto percentual. A taxa subiu de 11,75% para 12,75% – o maior patamar em cinco anos – alegando que havia um “balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação”.
O Banco Central, desde 2021, por uma lei sancionada pelo próprio ex-presidente, se tornou uma instituição autônoma, cujas decisões, inclusive sobre a política de juros, não têm interferência do governo federal.
“Esse encontro joga abaixo a falsa ideia de autonomia do Banco Central e mostra que Campos Neto tem que sair. Também comprova o que a CUT vem dizendo: Campos Neto está boicotando o nosso crescimento econômico”, diz a vice-presidenta da CUT e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro.
Para o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, possivelmente, Bolsonaro, na reunião, pressionou campos Neto a aumentar a taxa de juros para tentar fazer o controle da inflação “que vinha subindo por incapacidade do ex-ministro da Economia Paulo Guedes na política econômica”.
“Bolsonaro precisava a qualquer custo fazer o controle da inflação para tentar se reeleger, da mesma forma que fez a redução artificial de impostos para baixar os custos dos combustíveis. Foi uma clara demonstração de que o Banco Central não tinha nada de independente e que Campos Neto é um bolsonarista que inclusive hoje, tentar atrapalhar o governo Lula na retomada do crescimento”, pontua o dirigente.
Reunião secreta e proibida
As informações sobre o encontro foram obtidas pelo jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, e mostram que a reunião, com duração de cerca de meia hora, apareceu em um e-mail com título “Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022”, ao qual está anexado o documento “04_5_2022 Confidencial”.
A mensagem foi enviada para Mauro César Cid, então ajudante de ordens da Presidência, às 20h56 do dia anterior ao encontro. O e-mail partiu da assessora Gianne Amorim P. Portugal, que trabalhava no gabinete adjunto de Agenda da Presidência.
O e-mail faz parte das mais de 17 mil mensagens funcionais que foram apagadas das caixas de entrada e que estão em poder da CPI dos Atos Golpistas.
A reunião, tecnicamente, não poderia ter ocorrido por causa de uma regra chamada de “período de silêncio”, que determina que os membros do Copom não podem “emitir declaração sobre Assuntos do Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do Copom, incluindo regulados, economistas, investidores, analistas de mercado e empresários”.
Em nota, porém, o Banco Central afirmou que “nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro” com o ex-presidente e que não constou na agenda oficial por uma “falha operacional”.
Campos Neto bolsonarista
O atual presidente do BC é apoiador declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Banco Central tornou-se independente por conta de uma medida implementada em 2021, por Bolsonaro, que impede o atual governo de interferir na política econômica conduzida pela instituição e, por consequência, em sua direção.
Fonte: Portal da CUT.