Circo armado pelo governo para demitir presidente da estatal fez cair ações, e alguém lucrou muito com isso. Bolsonaro tenta acelerar privatizações, beneficiando iniciativa privada
Um investidor pode ter lucrado R$ 18 milhões com papéis da Petrobras na semana passada, ao efetuar operações (no dia 18) que só fariam sentido se soubesse que as ações iriam cair no dia seguinte – o que de fato ocorreu após espalhafatoso anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que iria trocar o comando da empresa. A denúncia é de reportagem do jornal O Globo. O uso de informações privilegiadas saídas diretamente do Planalto indica mais uma tentativa de golpe nas empresas públicas, vinda de um governo que defende ostensivamente a privatização e deseja sucatear o patrimônio nacional, repassando a investidores privados.
Já no começo deste ano o governo Bolsonaro começou a acelerar essa política de desmonte. Em dezembro passado havia anunciado que pretendia realizar nove privatizações em 2021, entre as quais as Correios e Eletrobras. No entanto, principiou com uma reestruturação caótica no Banco do Brasil. Depois fez estardalhaço com a demissão do presidente da Petrobras (atitude suspeitíssima, como se vê agora com a denúncia de favorecimento) e disse que ia “meter o dedo na energia elétrica”, entregando no último dia 23 ao Congresso Nacional a MPV 1031, para tentar acelerar a venda da Eletrobras.
Ainda no mês de fevereiro também mandou ao Congresso projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios. E voltou à carga para liquidação da Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia, que concentra o desenvolvimento do País na área de microeletrônica). Como se não bastasse, para pagar novamente o auxílio-emergencial ameaçou retirar investimentos da educação e da saúde garantidos pela Constituição, com a PEC Emergencial 186.
“Bolsonaro mostra claramente seu descaso com a população brasileira, todos os dias. Ignora a pandemia e as mortes, divulga informações falsas sobre a doença e ao mesmo tempo vai tentando vender empresas brasileiras essenciais nesse momento de crise e destruindo os serviços públicos, que são gratuitos e para todos. O que seria do Brasil hoje sem o SUS e sem os bancos públicos?”, questiona o diretor sindical Otoni Lima.
No caso específico da Petrobras, especialistas alertam que os constantes ataques para privatização e a atual política de preços praticada criam risco real de desabastecimento e surgimento de monopólios – o gás de cozinha, por exemplo, pode chegar a até R$ 200 neste ano. “Enquanto os brasileiros deixam de usar o gás e voltam para o fogão de lenha ou carvão, aumentando o risco de queimaduras e incêndios, investidores se beneficiam de informações privilegiadas e metem no bolso R$ 18 milhões. É essa a prioridade do governo: beneficiar quem já tem demais”, acrescenta o diretor sindical.