Itaú, BB, Bradesco e Santander chegaram a R$ 2,2 trilhões em operações de crédito; enquanto isso, 62% dos brasileiros estão endividados
Os grandes bancos aceleraram no crédito no terceiro trimestre deste ano. Quatro dos maiores de capital aberto - Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander - chegaram ao fim de setembro com um total de R$ 2,2 trilhões em operações de crédito. Enquanto isso, 62% dos brasileiros estão endividados, sem condições de pagar suas contas. A explicação para este alto endividamento vem dos juros médios cobrados das pessoas física, que passam de 52% ao ano e chegam a 280% no cartão de crédito rotativo e mais de 300% no cheque especial.
O valor dos juros pagos pelas pessoas físicas atingiu em 2017 R$ 354,8 bilhões - 17,9% maior que o registrado em 2016. O total pago corresponde a 372 milhões de salários mínimos ou 8,5% de todo o consumo das famílias brasileiras no ano passado. Isso significa que 10,8% da renda anual das famílias brasileiras foram usadas apenas para o pagamento de juros no ano passado, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“São recursos que saem dos bolsos das famílias e também das empresas e do governo diretamente para o caixa do setor financeiro”, diz Gustavo Cavarzan, técnico da subseção Dieese da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). Segundo o técnico, “o Brasil tem um dos maiores patamares de spread bancário do mundo”. O spread bancário é a diferença entre a taxa que os bancos cobram da população nos empréstimos e a taxa que eles pagam para captar nosso dinheiro, como a poupança. “No Brasil, essa diferença é enorme e faz os juros atingirem patamares muito altos, garantindo, assim, o lucro dos bancos mesmo quando a economia não vai bem”, afirma.
De acordo com o técnico, os dois fatores que contribuem para essa situação são a taxa básica de juros real (Selic), que está entre as mais altas do mundo e serve de referência para as taxas cobradas pelos bancos e a enorme concentração do mercado bancário no Brasil onde cinco bancos controlam mais de 90% das operações e atuam como um oligopólio.
Crédito rotativo - Para tentar reduzir níveis de inadimplência, em abril deste ano o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que o pagamento mínimo da fatura de cartão de crédito passasse a ser estabelecido pelos bancos – anteriormente era obrigatório pagar 15% do saldo total da fatura.
Para Gustavo Cavarzan, a decisão do CNM não foi uma medida consistente para reduzir a taxa básica real de juros da economia, nem atacou o grande poder de oligopólio dos cinco maiores bancos que atuam no Brasil. “Foi uma medida pontual que atua em uma linha de crédito especifica e não ataca nenhum dos problemas estruturais que explicam por que o patamar geral de juros no Brasil é tão elevado”, afirma o técnico.
Ele aponta que o problema do endividamento é que se dá em condições tão pouco favoráveis de volume, prazo e custo do crédito, que leva parte das pessoas e empresas à inadimplência e outra parte a fazer um esforço tão grande para pagar suas dívidas que não sobra recursos para consumo e investimento. “Precisaríamos combinar políticas de renegociação das dívidas atuais em melhores condições e é possível fazer isso utilizando os bancos públicos e políticas de enfrentamento aos fatores estruturais que prejudicam as condições de crédito no país”, afirma o técnico do Dieese/Contraf. Todo esse endividamento pode representar um freio enorme para impulsionar a atividade econômica do país, já que os juros cobrados pelos bancos das pessoas, das empresas e do governo representam uma espécie de pedágio que todos pagam ao setor financeiro.
Taxas cobradas pelos bancos pagam salários de todos os funcionários e ainda sobra dinheiro
Além de pagar juros exorbitantes, os usuários do sistema bancário pagam por tarifas e serviços cada vez mais caras. Em 2017, esses dois itens aumentaram 10% na comparação com o ano anterior, somando R$ 126,4 bilhões. Esse valor varia entre 5% e 72% aos gastos com salários e paga com folga todos os funcionários dos bancos, sem que precisem utilizar suas receitas.
“Nos últimos anos os bancos brasileiros vêm passando por um intenso processo de reestruturação em função da aplicação de novas tecnologias e modelos de organização empresarial que reduziram de forma significativa o número de trabalhadores nessas instituições e isso se mostrou uma fonte adicional de lucro para os bancos, através da redução ou estagnação das suas despesas de pessoal e administrativas”, afirma Gustavo Cavarzan, técnico do Dieese.
Fontes: Redação, com CUT e Valor Econômico