“O Sindicato terá a força e a importância que seus trabalhadores lhe emprestarem”
Trabalhador do Bradesco, originalmente HSBC, Belmiro Moreira assume, pela segunda vez, a presidência do Sindicato dos Bancários do ABC. Membro do Comando Nacional dos Bancários, nessa entrevista ele fala dos desafios da nova gestão à frente do Sindicato e destaca a fase de negociações e mobilização de nossa Campanha Nacional.
A nova diretoria do Sindicato assumiu seu mandato neste mês de julho. Belmiro Moreira assume, pela segunda vez consecutiva, a presidência da entidade. O NB bateu um papo com ele e, nesta entrevista, vamos saber mais sobre as perspectivas da diretoria e da categoria, em especial sobre a Campanha Nacional 2018, que está a todo vapor.
NB • Belmiro, você está assumindo um novo mandato como presidente de um dos mais importantes sindicatos do país, que, inclusive, compõe o Comando Nacional da categoria. Como é iniciar um mandato empenhado numa nova Campanha Nacional?
Belmiro • É uma grande honra e uma imensa responsabilidade, os bancários elegeram uma nova direção, a qual tenho a felicidade de ser o presidente. Tenho certeza que essa direção está à altura dos desafios que a atual conjuntura apresenta. No último período, enfrentamos uma reforma trabalhista que põe em cheque todos os direitos dos trabalhadores, paira sobre o Brasil a ameaça da reforma da Previdência, e todas essas ameaças, lado a lado com os ataques às liberdades democráticas. Como o sindicato é uma ferramenta fundamental na luta dos trabalhadores contra a perda de direitos, uma barreira ao desmonte da Previdência, estamos mais do que nunca sendo atacados. Resistimos com a ajuda dos bancários e bancárias para manter o nosso sindicato combativo, de luta, fazendo diferença na sociedade, um sindicato cidadão.
NB • Quais os principais desafios dessa gestão?
Belmiro • Temos um grande desafio imediato, que é manter todos os nossos direitos a partir da renovação da Convenção Coletiva de Trabalho e dos acordos por banco. Isso é para agora e já estamos nas ruas, nas agências e nas negociações com a Fenaban. Vencida esta batalha, vamos nos organizar para conquistar mais direitos para os bancários e bancárias. Desafios não faltam, desde derrotar a reforma trabalhista e lutar para sua revogação até o desafio de assegurar os direitos dos trabalhadores no paradigma do novo modelo de agências bancárias, home office, mobile bank etc..
NB • A reforma trabalhista está em vigor desde o final do ano passado e muito de seus itens estão prejudicando o trabalhador. O que o Sindicato vem fazendo para amenizar essa situação?
Belmiro • Primeiro é necessário que os trabalhadores se mobilizem e não permitam que os retrocessos da lei retirem seus direitos. Lutamos para que o nosso acordo assegure todos os direitos ameaçados pela reforma, para que os banqueiros não implementem estas deformações. Fazer a luta sindical, ao mesmo passo que travamos uma batalha política e social para restaurar as leis modificadas pela reforma. Temos que constranger os deputados e senadores que votaram pelo desmonte e também os que apoiam a reforma da Previdência, eles não podem ser reeleitos. Aliás, mais do que nunca, o trabalhador tem que se conscientizar que enquanto nos afastamos da política, os bancos trabalham para eleger uma grande bancada de apoio no Congresso Nacional.
NB • Falando em eleições, como você analisa essa situação do País?
Belmiro • Vivemos uma grande crise política, econômica e social. Essa crise tem raízes profundas na falta de representatividade dos políticos que são eleitos. No Congresso, temos menos de 11% de mulheres, que são a metade da população, não temos representação adequada da população em qualquer outro viés que analisarmos: raça, gênero ou classe social. Não é de se espantar que o Congresso e o Poder Executivo trabalhem contra o povo. Temos que eleger deputados, senadores, governador e presidente com compromissos definidos com a classe trabalhadora. O problema do Brasil não é excesso de democracia, e sim a falta dela, temos que ampliar a democracia em todos os níveis da sociedade, no local de trabalho onde o funcionário tenha vez e voz, para que não adoeça no exercício de sua função, no Poder Judiciário, que hoje é o mais fechado e menos democrático dos Poderes, resultando em decisões desastrosas, passando por cima de direitos constitucionais e agindo politicamente, mesmo sendo um Poder sem votos. Sem democracia, não há direitos e quem perde são os trabalhadores
NB • Esse ataque à democracia resulta, também, em ataque à organização sindical? A reforma trabalhista também tenta sufocar financeiramente os sindicatos, acabou com a contribuição sindical e muitos dizem que os sindicatos vão perder sua força. Qual sua opinião a respeito disso?
Belmiro • Primeiramente, tenho que parabenizar os bancários do ABC pela luta para reconquistar o sindicato, lá na década de 90, e por sempre terem entendido a importância de estar ao lado do sindicato, mais que isso de ser o sindicato. Temos níveis de sindicalização muito altos, seja em relação aos trabalhadores em geral, seja na própria categoria. O bancário do ABC não foge da luta. Sempre ressalto que o Sindicato terá a força e a importância que seus trabalhadores lhe emprestarem, teremos que discutir as formas de financiamento da nossa luta, pois só assim um sindicato pode se manter autônomo perante os patrões. Mantemos o compromisso de discutir estas questões de forma aberta e transparente com os bancários e bancárias, nos locais de trabalho e nas assembleias.
NB • Estamos em meio à Campanha Nacional dos Bancários. Você faz parte do Comando Nacional. Como estão as negociações com os bancos?
Belmiro • Os banqueiros, obviamente, tentam se valer do desmonte dos direitos trabalhistas para lucrar, ainda mais, às nossas custas. Porém, sabem de nossa força e capacidade de mobilização e de luta. É uma negociação dura, que vai depender de aspectos técnicos, jurídicos, mas, acima de tudo, políticos.
NB • Há o risco dos bancários perderem direitos conquistados com muita luta durante vários anos. Qual a posição do Sindicato a esse respeito e o que está sendo feito para evitar essa situação?
Belmiro • O risco é iminente. Por isso, insisto que o aspecto fundamental das negociações é político. Os banqueiros precisam saber que, para além dos representantes na mesa de negociações, há milhares de bancários e bancárias com total disposição de luta pela manutenção e ampliação de seus direitos, contra qualquer possibilidade de retrocesso.
O nosso sindicato está empenhado nesta mobilização, desenvolvendo atividades em todas as cidades, percorrendo as agências e dialogando, também, com os clientes. Estamos levando nossas reivindicações e pedindo apoio à população através de rodas de conversa em bairros, associações de moradores e comunidades. O resultado tem sido excepcional! Por tudo isso, acredito que seremos vencedores. A categoria compreendeu que agora temos que ir à luta, pois somos todos por direitos!