Religiões de matrizes africanas são as principais vítimas; diversidade e respeito são fundamentais para uma cultura de paz e fraternidade
O Brasil é um país laico; ou seja, não adota religião oficial e nem interfere nos assuntos religiosos, a menos que haja implicações jurídicas. A grande variedade de povos e culturas que formam nossa sociedade possibilitou uma rica diversidade também em termos religiosos, mas nos últimos anos essa beleza vem sendo ameaçada pela intolerância.
Intolerância, violência e ataques aos praticantes de qualquer religião são exatamente o oposto dos preceitos que movem a religiosidade, calcada numa cultura de fé, esperança e paz. “A liberdade religiosa está assegurada no Brasil, mas infelizmente aumenta a cada dia a intolerância, em especial aquela praticada contra as religiões de matrizes africanas”, afirma o secretário de Comunicação do Sindicato, Belmiro Moreira.
O número de denúncias de intolerância religiosa registrado pelo governo federal brasileiro aumentou 106% entre 2021 e 2022. Passou de 583 para 1,2 mil, numa média de três por dia. O estado recordista foi São Paulo (270 denúncias), seguido por Rio de Janeiro (219), Bahia (172), Minas Gerais (94) e Rio Grande do Sul (51). A maioria foi feita por praticantes de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, sendo que seis em cada dez vítimas são mulheres. No ambiente virtual esse salto foi ainda maior: levantamento da ONG Safernet, de proteção aos direitos humanos, revelou que os ataques online subiram 522% na comparação entre janeiro e outubro de 2021 e o mesmo período de 2022.
A intolerância contra as religiões de matriz africana remete também ao racismo estrutural presente na sociedade: é o racismo religioso, praticado pelos que, de forma deliberada ou inconsciente, enxergam essas religiões como inferiores às outras, acreditando em uma “demonização” falsa, já que a figura do demônio não existe nas religiões afro-brasileiras.
“Nosso Sindicato sempre respeitou todas as religiões, tanto que muitas vezes fazemos celebrações ecumênicas, reunindo representantes de diferentes religiões. Não podemos aceitar intolerância ou racismo se queremos construir uma cultura de paz e fraternidade entre os povos”, reforça Belmiro, que recentemente participa na noite desta quarta, 12, de sessão solene na Câmara Municipal de Santo André em comemoração ao Dia Nacional das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé - a data oficial da celebração é 21 de março, e a lei foi sancionada pelo presidente Lula em janeiro passado.