Desgaste psicológico, vacinas insuficientes, UTIs lotadas: essa é a realidade também do Grande ABC, que entra em lockdown para tentar conter a doença
Um ano após a confirmação do primeiro caso de covid-19 o Brasil chega à marca de 250 mil mortos pela doença, com um cronograma de vacinação confuso e insuficiente. Os registros de contaminação e mortes continuam a subir e a situação parece ainda pior do que no início da pandemia, pelo desgaste psicológico, cansaço, desrespeito aos cuidados básicos como usar máscaras e evitar aglomerações, e uma grande crise sanitária e econômica instalada no País.
No Grande ABC a data coincide com o anúncio de um lockdown noturno, que será colocado em prática a partir de sábado (27). As atividades comerciais, com exceção das farmácias e equipamentos de saúde, serão encerradas às 21h, e a circulação de pessoas ficará restrita das 22h às 4h. A decisão foi anunciada pelo Consórcio Intermunicipal do ABC, que reúne as prefeituras das sete cidades que formam a região, e a validade será até 7 de março.
No entanto, a decisão não é consensual: São Caetano e Ribeirão Pires optaram por aderir ao lockdown estadual (das 23h às 5h de amanhã, 26, até 14 de março), no qual serviços essenciais como supermercados, além de delivery, funcionarão normalmente. Cada município terá seu próprio decreto sobre o tema.
Apesar das diferenças as decisões seguem o mesmo princípio de tentar reduzir os casos de covid-19, vez que o colapso na oferta de leitos de UTI já é realidade também nas cidades da região, atingindo hospitais das redes pública e privada.
De acordo com o divulgado pelos municípios, na última terça (23), Mauá tinha 90% dos leitos ocupados; Santo André 75% e São Bernardo 87% na rede pública e 91% na rede privada. É o maior nível de ocupação em 11 meses de pandemia.
Nesta quinta, 25, Ribeirão Pires também divulgou que o hospital de campanha, criado especialmente para atender pacientes com covid-19, atingiu 100% de ocupação em seus 24 leitos de enfermaria e sete de emergência. Já São Caetano informou taxa de ocupação de 60% ontem (24) e Diadema 46% (dados de 19 de fevereiro).
A região contabiliza 4.520 mortes pela doença e 128.459 casos.
Vacinas – A falta de vacinas também é realidade nas sete cidades. Ontem, das 161.411 doses de Coronavac (produzida pelo Butantan com o laboratório chinês Sinovac) e Covishield, (parceria entre o laboratório da Astrazeneca e a Fiocruz), 152.450 já haviam sido aplicadas.
Diadema e Ribeirão Pires usaram 96% das doses que receberam até agora. Santo André 95,6%, seguida por São Bernardo com 94,6%, São Caetano (93%), Mauá (90,1%) e Rio Grande da Serra (87%). A expectativa dos municípios era pela chegada de mais doses hoje: Diadema espera receber 2.230 frações da Covishield e as demais cidades doses da Coronavac, sendo 2.409 para São Caetano, 4.270 para São Bernardo, 1.650 para Mauá e 660 para Ribeirão Pires.
Pior momento – Enquanto a vacina não chega para todos não há nada que se possa fazer além de evitar aglomerações, usar máscara e limpar as mãos com álcool gel ou água e sabão. “Não existe alternativa. É claro que todos estão cansados do confinamento, do isolamento social, é muito tempo. O governo federal não agiu nem parece ter intenção de agir para prevenir e controlar a doença; pelo contrário, divulga mentiras sobre medicamentos que não funcionam e não se importa com tantas mortes. Mas é justamente agora que precisamos manter esse distanciamento e cuidados básicos, pois estamos no pior momento da pandemia”, avalia o diretor sindical Otoni Lima.
A vacina para todos é condição fundamental para que o País possa sair dessa crise, e várias carreatas promovidas pela CUT e demais entidades sindicais e movimento social vêm reivindicando a imunização. A testagem em massa também pode colaborar para mapeamento e prevenção, e a CUT-SP vai iniciar coleta de assinaturas para que projeto de lei de iniciativa popular com esse objetivo seja aprovado nas câmaras municipais – em breve, novas informações sobre o assunto serão divulgadas no site do Sindicato.