Mais de 148 mil brasileiros já morreram, sendo 2.603 no Grande ABC até 7 de outubro. Diagnósticos de depressão e ansiedade aumentaram, mas repasses de orçamento não priorizaram SUS, denuncia entidade
O Brasil chegou à marca de 5 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na semana passada, no dia 7 de outubro, com média diária de 631 óbitos. Mais de 148 mil brasileiros já morreram por causa da doença, sendo 2.603 no Grande ABC até a mesma data. A pandemia também atingiu em cheio a saúde mental da população mundial, mas houve redução no acesso a tratamentos e, no País, há denúncia de que repasses priorizam a rede privada, e não o SUS.
Estudo elaborado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) indicou que a pandemia "agravou doenças mentais existentes, gerou novas doenças e limitou ainda mais o acesso aos serviços de saúde mental". A pesquisa foi realizada em sete países (Colômbia, Líbano, Filipinas, África do Sul, Suíça, Ucrânia e Reino Unido) e também revela que três em cada quatro pessoas consideram necessário dar apoio especial à saúde mental aos trabalhadores da linha de frente da pandemia.
Dados da Organização Mundial da Saúde mostram uma situação ainda mais grave, ao revelar que os serviços essenciais de saúde mental foram interrompidos ou reduzidos em 93% dos países do mundo em meio à pandemia. Segundo o estudo, entre os problemas provocados pela suspensão dos tratamentos estão níveis elevados de uso de álcool e drogas, insônia, ansiedade e até mesmo casos de suicídio ou mortes por overdose.
As causas dessa piora no estado emocional das pessoas são muitas, a maior parte bem visível e concreta. Entre elas estão o luto pela perda de pessoas queridas, o isolamento, o medo de perder o emprego e a perda de renda, provocando ou agravando problemas de saúde mental. De acordo com o neurocientista do Hospital Albert Einstein, Leandro Freitas de Oliveira, houve aumento de 50% a 90% no diagnóstico de depressão e ansiedade. É o que chama de ´epidemia emocional´. “Temos incertezas sobre perdas biológicas e econômicas. Isso faz o cérebro gastar muita energia, o que faz aparecer sintomas", afirmou, em entrevista à imprensa.
Recursos – Segundo o Ministério da Saúde os recursos para saúde mental no Brasil englobam a criação de novos serviços e custeio mensal para municípios e manutenção da Rede de Atenção Psicossocial do SUS. Mas especialistas e entidades voltadas para saúde mental criticam o modo como o orçamento é aplicado.
O presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, Leonardo Pinheiro, afirmou que o Ministério da Saúde aumentou recursos para instituições privadas de internação em detrimento a recursos para o SUS: "Publicaram portarias e decretos aumentando os repasses de recursos e facilitando acesso a recursos públicos para instituições privadas que fazem internação", apontou.
No Grande ABC, um levantamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE), baseado em dados das prefeituras, indica que a região recebeu R$ 511,17 milhões de repasse para o enfrentamento à covid-19. O estudo foi divulgado por jornal da região e mostra que, do total, R$ 52,46 milhões foram enviados pelo governo estadual e R$ 458,71 milhões pelo governo federal, entre março e setembro, o que significa que as cidades receberam em seis meses o equivalente a R$ 182,06 por morador, ou cerca de R$ 1 por dia.
Considerado insuficiente pela maioria das prefeituras, o dinheiro foi utilizado para implementação de programas de testagem e compra de Equipamentos de Segurança Individual (EPIs), entre outras ações. As prefeituras têm de justificar os gastos ao MP, ao TCE e ao Conselho Municipal de Saúde, além de fornecer as informações no próprio site.
Os valores enviados pelo Estado variam de acordo com critérios demográficos, como número de habitantes, e seguem o piso de atenção básica do SUS (Sistema Único de Saúde), que é de R$ 4 per capta. São Bernardo foi o município da região que recebeu o maior valor: R$ 28,54 por habitante. Já Mauá, que tem pouco mais da metade dos moradores da cidade vizinha, foi a que recebeu a menor quantia: R$ 11,23 por morador.