Área restrita

MP 927 pode agravar crise para trabalhadores brasileiros

Coronavírus
Tipografia

Governo Bolsonaro recua, mas ainda assim vai na contramão das ações protetivas adotadas em outros países que passam pela pandemia do coronavírus

O governo federal anunciou na manhã de hoje (23) que vai revogar o artigo da medida provisória (MP) 927 que autoriza a suspensão do contrato de trabalho e pagamento de salário. O recuo aconteceu após pressão contra a iniciativa, com imensa repercussão na internet. A MP 927 foi publicada na noite de domingo (22), para vigorar enquanto durar o estado de calamidade pública decretado em razão do coronavírus.

A medida agrava ainda mais a situação dos trabalhadores. Ela também fere a Constituição Federal (artigo 8), ao desconsiderar a participação dos sindicatos na definição de soluções coletivas para problemas comuns dos trabalhadores. A MP estabelece como alternativa o teletrabalho, a antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas, aproveitamento e a antecipação de feriados, banco de horas, suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho, direcionamento do trabalhador para qualificação e o diferimento do recolhimento do FGTS.

As entidades sindicais já reivindicaram como alternativa possível para o enfrentamento da crise a revogação da Emenda Constitucional 95 (do congelamento de gastos públicos), a manutenção dos empregos e um fundo emergencial para financiar e proteger a renda dos trabalhadores formais e informais. Mesmo com a revogação do artigo que trata dos contratos e salários, a MP vai na contramão das medidas anunciadas em países como Alemanha, Inglaterra e Espanha, que também passam pela mesma crise causada pela pandemia do coronavírus, já que neles existe preocupação com a garantia de emprego e renda do trabalhador, com o Estado custeando parcialmente os salários em alguns casos.

Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o texto da MP, que precisa ser analisado e votado pelo Congresso Nacional em até 120 dias, contém uma série de mudanças que deixam o trabalhador “à mercê” das empresas, e pode agravar ainda mais a crise. As centrais sindicais estão reunidas nesta segunda (23) para discutir como reagir à proposta.