Relatório semestral do Banco Mundial para a América Latina orienta que a política econômica deve proteger trabalhadores, não empregos.
O relatório semestral do Banco Mundial para a América Latina e Caribe não poderia ter outro tema senão a pandemia de Covid-19 e seus efeitos sobre a economia. Elaborado por diversas instituições de renome mundial, aponta para um cenário desolador na região.
Porém, sua análise não é pautada apenas pelo coronavírus, mas também pelo recente histórico da região. Segundo os dados analisados, América Latina e Caribe vêm diminuindo sua participação na economia mundial há pelo menos cinco anos.
Isso porque não conseguiu manter seus gastos sociais elevados, melhorando a qualidade de vida da população. A queda do preço das commodities promoveu uma crise, que gerou ajustes fiscais enfrentados pelos países da região. Nesse cenário, agitação social e uma queda histórica no preço do petróleo tiveram forte impacto. Logo, a promessa de um futuro melhor para o Brasil e seus hermanos está mais distante de se tornar realidade.
A epidemia na América Latina
Apesar do continente ter vivido ciclos econômicos que geraram experiência econômica – e muito sofrimento para seus habitantes, não há protocolos para lidar com a pandemia. Afirma o relatório que os países da região caminham para um “choque de oferta”.
No mesmo sentido, economias de todo mundo também sofrerão. Mas as economias baseadas em produtos primários, como minérios e agropecuária, sofrerão ainda mais com a falta de demanda dos países centrais do capitalismo. Assim como o turismo, importante fonte de receita para a região, que já é um dos setores mais afetados pelo coronavírus.
Apesar de estar em um estágio anterior ao dos países ricos no cenário sanitário da pandemia, nem todos os países usaram as técnicas que já deram certo nas outras regiões. “O equilíbrio entre custos sanitários e custos econômicos” na região não foram projetados coletivamente, com destaque para o negacionismo do Brasil.
Mesmo assim, dados utilizados para o relatório como luz noturna, número de trajetos de aplicativos de transporte e volume de dióxido de nitrogênio mostram que houve uma drástica queda na atividade econômica.
Informalidade impacta nas medidas de apoio oferecidas pelos estados
As economias desses países são caracterizadas por uma alta informalidade. Isso impede que ações governamentais que obtiveram sucesso nas regiões mais ricas, como adiamento de impostos e subsídios salariais, sejam implementadas com eficácia na região.
Portanto, o Banco Mundial aconselha que na América Latina e no Caribe, a resposta à crise econômica deve se dar no âmbito dos programas de assistência social já existentes. Ampliação da cobertura e expansão dos beneficiados são uma primeira etapa. Já uma segunda inclui “distribuição de alimentos enquanto perdurarem as medidas mais rígidas de distanciamento social”.
O documento afirma ainda: “a orientação geral de política econômica na presença de choques adversos é proteger os trabalhadores, não os empregos”. Contudo, alerta que do lado debaixo do Equador, as coisas podem não funcionar assim. Já que as relações trabalhistas são muito voláteis, ou seja, podem se dissolver com facilidade, o que pode prejudicar a retomada da produção no momento pós-pandemia.
Por isso, o Banco Mundial aconselha uma “abordagem dupla”. O financiamento do estado para setores estratégicos, com a contrapartida da manutenção dos empregos. O mesmo valeria para os bancos, que deveriam trabalhar com o compartilhamento de riscos e garantias com o governo. E assim, deveriam assegurar a disponibilidade de liquidez para as empresas que necessitam de capital de giro para enfrentar os meses parados.
O papel dos governos
O relatório aponta que os governos terão uma responsabilidade imensa nas crises. Elas vão desde a coordenação das respostas, até a garantia do sistema financeiro. Além disso, poderá haver a necessidade da simplificação de processos extrajudiciais e orientação sobre medidas regulatórias. Moratórias -ou cronogramas de adiamento de pagamentos – são possibilidades para os países da região.
Porém, o mais ingrato dos papéis que os governos têm a cumprir nessa crise é o de arcar com as perdas econômicas. Segundo o relatório, “somente os governos podem servir como os ‘seguradores’ de último recurso”.
O relatório sugere a possibilidade de estatização de empresas e recapitalização de bancos. E aponta que para um futuro menos doloroso, as economias da região precisarão ser conduzidas focando o longo prazo, sem se descuidar do presente.
Fonte: Reconta ai