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A duvidosa (e cruel) matemática dos banqueiros

Campanha Nacional 2016
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Ao tentar justificar sua contraproposta rebaixada, que não repõe perdas, patronal objetiva quebrar paradigma de conquistas da categoria, enquanto   continua a explorar bancários e clientes apesar da alta lucratividade do setor As entidades patronais dos banqueiros (Fenaban/ Febraban) divulgaram a contraproposta feita à categoria bancária na última segunda, 29, como um “ganho superior à inflação na remuneração do ano da grande maioria dos funcionários do sistema bancário”. É uma falácia e um desrespeito à inteligência da categoria, que reivindica a reposição da inflação (9,57%) mais aumento real de 5%. O que os banqueiros propõem (6,5% de reajuste) não chega nem perto dessa reposição, e o abono de R$ 3 mil desaparece na hora, pois não incorpora nos salários ou demais verbas (férias, FGTS, vales refeição, alimentação, auxílio-creche etc). Para tentar validar sua equivocada matemática, a patronal escalonou salários em três faixas e o impacto que esse percentual mínimo traria. Ora, em primeiro lugar, os bancários reivindicam em nome de todos os trabalhadores, nacionalmente, e não para essa ou aquela faixa salarial. Em segundo, ao repor a inflação só está sendo compensado o que for perdido até setembro, o que torna o aumento real fundamental para evitar a perda. E, em terceiro, as perdas seriam de quase 3% (2,88%). “A proposta dos banqueiros não repõe o poder de compra da categoria. O abono, sobre o qual incide inclusive o IR, reduzindo seu valor, pode até cobrir o rombo do cheque especial, mas e depois? Ficaremos acumulando perdas até a próxima campanha?”, questiona o presidente do Sindicato, Belmiro Moreira. Segundo Belmiro, o que a patronal pretende com isso é quebrar o paradigma que se repete há 12 anos, quando a categoria conquistou   repasses inflacionários e aumentos reais. No ano passado, essas conquistas representaram20,83% de ganho real nos salários e 42,3% nos pisos. “Quebrar esse paradigma é dar início ao retrocesso, além de balizar a mesma condição rebaixada para outras categorias”, explica o presidente do Sindicato. Acúmulo de lucros – Outra falácia divulgada pela patronal é que a contraproposta apresentada “mostra o empenho dos bancos por uma negociação rápida e equilibrada, capaz de garantir a satisfação e o bem-estar dos empregados do setor em um momento de dificuldades e incertezas na economia brasileira”. Momento de dificuldades para os bancos? Como, se em um ano os cinco maiores lucraram, juntos, quase R$ 70 bilhões? Segundo dados apresentados pelo Dieese, a soma dos lucros do Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, BB e Caixa chegou a R$ 69,9 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento de 16,2% em relação a 2014. Mesmo nesse ano, em que acusaram “queda”, os bancos voltaram a crescer, como demonstra a lucratividade em um único trimestre (entre abril e junho), quando Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander lucraram “apenas” R$ 13,46 bilhões. “O problema é que os bancos preferem sempre tirar do funcionário que já ganha menos, porque os pagamentos a diretores continuam altíssimos. Não querem reajustar PLR, por exemplo, mas não mexem no salário de altos cargos”, compara o presidente do Sindicato. No ano passado, um estudo divulgado pelo portal iG revelou que a maioria das instituições financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo previa aumentar a remuneração fixa de seus diretores bem acima da inflação, em até 81%. À época, um bancário com o piso da categoria teria que trabalhar 17 anos para poder ganhar o que o executivo de um banco ganhava em um mês. Aliás, os banqueiros tiram dos funcionários que trabalham muito e também dos clientes: no ano passado, somente a arrecadação com prestação de serviços e tarifas bancárias cobriu entre 99% e 165% das despesas de pessoal nas maiores instituições financeiras, conforme estudo do Dieese - despesas de pessoal compreendem os gastos com folha de pagamento (remuneração, PLR, encargos sociais e benefícios), além das despesas com treinamento e processos trabalhistas. Em julho passado, as tarifas bancárias foram novamente reajustadas, subindo até 30%. E quem, mais uma vez, ganhou com isso? Direitos ameaçados – Além das questões que formam a pauta de reivindicações desse ano, os bancários precisam atentar para a situação vivida pelo Brasil nesse momento. O golpe institucional levou ao poder forças conservadoras e a serviço do mercado, distantes dos interesses dos trabalhadores. Terceirização, flexibilização de direitos e privatizações de empresas são alguns dos projetos que poderão ser aprovados e até usados como justificativa para “gerar” emprego, acabando com o trabalho decente. “Temos que tentar impedir retrocessos, tanto em nossa campanha salarial quanto em nossos direitos como trabalhadores e cidadãos”, alerta Belmiro. Saiba mais sobre esses projetos, os riscos que representam e a composição do Congresso Nacional no site do Diap: http://www.diap.org.br/