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O presidente do BB e seu pensamento retrógrado

Banco do Brasil
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Novaes defende fim de curso sobre ética no banco e diz que crianças pobres são culpadas pela educação ruim no País 

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, perdeu boas chances de fechar o bico nos últimos dias, mas, revirando sua trajetória tão autovalorizada, parece que o comportamento não é pontual, e sim recorrente. Novaes criticou o curso de ética exigido pelo BB aos funcionários, como já havia feito seu chefe, o presidente Bolsonaro. Segundo reportagem do DCM o presidente do BB também coloca a culpa da educação deficiente do País nas crianças pobres, em artigo reproduzido pela publicação online, no qual defende ainda um amplo controle da natalidade.

Em e-mail encaminhado ao jornal O Globo Novaes disse que conceitos como diversidade foram capturados pela esquerda radical para fins políticos e ideológicos. Na véspera do Dia Internacional da Mulher, o presidente Jair Bolsonaro já havia utilizado seu perfil no Facebook para criticar o curso do BB que, na verdade, traz em seu conteúdo temas como a equidade de gênero, prevenção à violência contra a mulher e assédio sexual no trabalho. Mas, segundo Novaes, após Bolsonaro chamar sua atenção sobre essa política do banco, deu inteira razão a ele, concordando que não deveria existir.

“Discussões éticas são fundamentais em qualquer ambiente, quanto mais no trabalho e quando se trata de abordar o assédio e a violência contra as mulheres. É absurdo vincular direitos a ideologias políticas, é retrocesso total”, aponta o diretor sindical e funcionário do BB, Otoni Lima.

Culpa da vítima – Logo após a divulgação das críticas de Novaes ao curso do BB o site Diário do Centro do Mundo (DCM) publicou reportagem que resgata palestra do economista no ano de 2017, em que trata da educação no País. Nela, afirma que são as crianças brasileiras vindas de famílias pobres o verdadeiro problema do sistema de ensino do País, porque já chegam na escola mau nutridas, com má formação neuronal e com problemas físicos cerebrais em virtude de suas famílias desestruturadas e subnutrição.

“O processo produtivo da Educação é sui generis já que a criança está ao mesmo tempo na matéria prima e no produto final. É a mesma criança em dois estágios diferentes de vida. Como em qualquer produção, se a matéria prima não é boa, o produto final, criança educada, também não o será”, escreveu. A palestra foi proferida em outubro de 2017 para membros do conselho técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e o artigo dela resultante (divido em três partes) estava registrado no site do Instituto Liberal até a divulgação da reportagem – leia íntegra em https://bit.ly/2u5eHHs.

O que chama a atenção, além do conteúdo que culpa a vítima (o próprio educando) e defende um controle de natalidade rigoroso, é a forma do discurso, com crianças sendo qualificadas como “produção” e “produto final”; ou seja, mera mercadoria. A desculpa de que se trata do texto de um economista é inviável já que, embora muitos ignorem, economia é ciência da área de Humanas, e tem nas pessoas, e não nos números, sua força motriz.

 

Foto: Sérgio Lima/PODER 360

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