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Conjuscs lança 10ª carta de conjuntura; publicação traz nota relacionada à saúde dos bancários

Saúde
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Economistas Vivian Machado e Catia Uehara, do Dieese, abordam tema; confira entrevista

O Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Conjuscs) lançou ontem, 17, sua 10ª. Carta de Conjuntura. A edição é composta por mais de 20 notas técnicas, tratando de temas em variadas áreas (veja relação abaixo).

A advogada do Sindicato, Maria da Consolação Vegi da Conceição, e as economistas Vivian Machado e Catia Uehara, técnicas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e que assessoram o setor bancário (Contraf-CUT e Rede Bancários, respectivamente) estão entre as participantes da publicação.

Maria assina o texto Algumas considerações sobre a medida provisória nº 905/2019 que institui o contrato de trabalho verde e amarelo e altera a legislação trabalhista. E as economistas Vivian e Catia a nota Os afastamentos no setor bancário: transtornos de uma categoria sob pressão. 

O Sindicato entrevistou Vivian Machado sobre o tema abordado, que traça um panorama da saúde dos bancários no Brasil no atual contexto de reestruturação e digitalização dos serviços prestados pelos bancos. Vivian apresenta dados impactantes de pesquisas que comprovam a gravidade do quadro, como a alta nos afastamentos por doenças mentais na categoria, a pressão e o assédio motivando o uso de antidepressivos e ansiolíticos e até mesmo casos de suicídio. Na entrevista fala, também, das iniciativas e ações movidas pelas entidades representativas da categoria como a Contraf-CUT e seus sindicatos para tentar mudar essa realidade. Confira.

Sindicato – Qual é a abordagem central da sua nota publicada na 10ª Carta de Conjuntura do Conjuscs?

Vivian - Como os bancos passam por um processo de alta digitalização nas transações, na estrutura de atendimento, vêm encolhendo sua estrutura física e encolhendo também significativamente o número de funcionários. Foram cerca de 64 mil postos de trabalho bancário fechados desde 2013 até outubro de 2019. Essas mesmas tecnologias estão acelerando demais o ritmo de trabalho dos que ficam no emprego. E os modelos de gestão também passam por alterações, provocando muita pressão nos trabalhadores. A grande preocupação que estudamos, com os sindicatos do País e a Contraf-CUT, é o crescente número de afastamentos no setor.

Sindicato -  E desde quando isso passa a ocorrer? Há um perfil comum aos afastados?

Vivian - De 2013 para cá, quando esse processo de digitalização se acelera, a gente observa uma mudança no perfil dos afastados. A principal causa, até 2012, eram os esforços repetitivos que geram a LER/Dort, transtornos osteomusculares. Isso representava cerca de 25% dos afastamentos na categoria até 2012. Já em 2013 a gente observa uma mudança, e aí os transtornos mentais assumiram a primeira causa de afastamentos no setor, principalmente entre gerentes, que são os mais afetados por esses transtornos. Esses afastamentos já representam cerca de 1/3 do setor, por causa de transtornos mentais diversos. Até o comecinho de 2014 a gente tinha esses dados do INSS discriminados pela classificação internacional de doença e pelas Cnaes (atividade econômica), mas agora é preciso que os sindicatos solicitem essas informações, porque não vêm mais discriminadas por Cnaes, só pelas doenças. Observamos que entre 2009 e 2013, que são esses dados abertos, houve um crescimento de 40% no número de benefícios concedidos a bancários, enquanto que nos demais setores da economia o crescimento foi de 26%. Passou de 13.297 bancários afastados para 18.671 em 2013.

2009 a 2013

 Benefícios concedidos a bancários afastados pelo INSS passam de 13.297 para 18.671 

Alta de 40,4% 

Nos demais setores, que passam de 2 milhões de afastamentos no total, o crescimento foi de 26,2%

 

Sindicato - E podemos citar como causas - além do avanço tecnológico e redução da mão de obra, sobrecarregando quem fica - também situações de assédio moral?

Vivian - Se observa, sim, que as relações de trabalho estão ficando cada dia mais frágeis. Tem a desregulamentação do contrato de trabalho e uma competitividade em excesso, se cobra muita competitividade desses trabalhadores e isso vem piorando consideravelmente as condições de trabalho. O Observatório Digital de Saúde e Segurança no Trabalho da OIT e do MPT observou um crescimento dos benefícios concedidos, entre 2012 e 2018, com 31.199 benefícios concedidos para os bancários. Por dados do INSS se observa que os bancários são os responsáveis por 5,73% dos gastos do instituto com afastamento, sendo que o setor representa apenas 1% de todos os setores da economia. Esse peso nos gastos do INSS também se deve, em parte, à média salarial do setor, e isso estamos falando de empregos formais no Brasil. Nesses dados do Observatório também se observa que 42% são de doenças relacionadas à LER/Dort, os transtornos mentais e comportamentais respondem por 37% e as doenças nervosas 11%. Olhando só os casos de afastamento por doenças mentais os bancários representam 15% do total dos afastamentos. São quase 10 mil – 9.923 para um total de 64.794 trabalhadores. E considerando-se apenas a depressão, 16% são bancários – 3.641 bancários para 22.847 trabalhadores afastados por depressão. A pressão no trabalho vem se dando, em boa parte, na forma de assédio moral.

 

Sindicato – Também há pesquisas ou indicadores específicos sobre o assédio?

Temos dados do Ministério Público do Trabalho na Bahia, por exemplo, de 2012 a 2017. 78% dos processos relacionados a bancários movidos no MPT são de assédio moral; 22% de condições inadequadas no ambiente de trabalho. É significativa a questão do assédio. Outros dados de pesquisas regionais que corroboram esses dados trazidos pelo INSS e OIT mostram que há uma alta incidência de bancários trabalhando doentes, à custa de remédios controlados, os chamados tarja preta, principalmente antidepressivos e ansiolíticos, ou os dois. Isso foi mostrado em pesquisas da Universidade de Campinas, com os bancários de Jundiaí; no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre; em pesquisas da UNB com bancários de Brasília. Nelas os bancários apontam problemas no trabalho como principal causa de tomarem esses remédios, fazerem tratamento psicológico ou psiquiátrico. Apontam cobrança excessiva de metas e problemas interpessoais, e esses problemas remetem à questão do assédio, à grande pressão que os gerentes sofrem de quem está acima e acabam transmitindo a quem está abaixo. Acaba se tornando assim um assédio institucional, uma coisa muito preocupante. O que mais os bancários cobram nas suas campanhas e consultas que os sindicatos fazem todo ano é o combate ao assédio moral e melhorias na saúde e condições de trabalho, são as principais reivindicações ano a ano, uma preocupação constante.

Sindicato - Mas apesar da cobrança constante por melhores condições de trabalho essa ainda é uma questão sem solução, não é? Ou se vislumbra alguma mudança efetiva nesse sentido?

Vivian - O Comando Nacional dos Bancários vem negociando com a Fenaban cláusulas para tentar amenizar essa situação. Houve uma pesquisa feita em conjunto com a Fenaban e os próprios bancos entenderam que os principais afastados são os gerentes, que a pressão é maior nas agências, onde se produz o resultado. E aí se buscou, para diminuir a pressão e constrangimentos, a cláusula que impede que os bancos criem rankings individuais de classificação dos bancários, que era uma forma de pressão muito grande para eles. E também a questão de cobrança fora do horário de trabalho. Isso foi impedido por meio de cláusulas que estão na convenção coletiva dos bancários. Porém a gente vem observando que é crescente isso (os afastamentos por doenças mentais). Há pesquisas que inclusive apontam para o suicídio de bancários ou que tentaram se suicidar por conta dessa pressão toda. Tudo isso levou os sindicatos a conversar com esses bancários, com psicólogos, psiquiatras, fazer pesquisas para ver a condição desses trabalhadores (*). Para chegar num nível de que tem bancário se matando é muito sério e é preciso ser feito algo em relação a isso. Então os sindicatos vêm cobrando ano a ano que os bancos tomem atitudes nesse sentido. Agora estão negociando também a questão de como são feitas as cobranças de metas, que estão cada vez mais abusivas, elevadas, a ponto de se tornarem inatingíveis, e isso vem afetando consideravelmente a saúde dos bancários. Esse é um tema recorrente não só da campanha nacional, que ocorre na data base, mas também da campanha permanente da mesa de saúde e condições de trabalho e da mesa de prevenção de conflitos.

 

(*) O Sindicato dos Bancários do ABC lançou nesse ano a campanha #Nãoémimimi – Não deixe a meta de consumir para discutir, prevenir e orientar os trabalhadores sobre as questões de saúde e condições de trabalho

 

Temas e autores da 10ª. Carta de Conjuntura

  1. UMA CRISE EXTERNA A CAMINHO? –

Adhemar S. Mineiro

  1. O RELATÓRIO DA OIT “TRABALHANDO EM UM PLANETA MAIS QUENTE”, E SUA APLICAÇÃO PRELIMINAR AO PIB INDUSTRIAL E AO DE SERVIÇOS NO GRANDE ABC PAULISTA –

Jefferson José da Conceição

Gisele Yamauchi

Gustavo Kaique de Araújo Monea

Vânia Viana

  1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 905/2019 QUE INSTITUI O CONTRATO DE TRABALHO VERDE E AMARELO E ALTERA A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA –

Maria da Consolação Vegi da Conceição

  1. OS AFASTAMENTOS NO SETOR BANCÁRIO: TRANSTORNOS DE UMA CATEGORIA SOB PRESSÃO –

Vívian Machado

Catia Uehara

  1. NOVO MODELO DE FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE PROPOSTO PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE E OS RISCOS DE REDUÇÃO DE RECURSOS PARA O FINANCIAMENTO DO SUS NOS MUNICÍPIOS A PARTIR DE 2021 –

Francisco R. Funcia

  1. GOVERNANÇA E CONSELHO CONSULTIVO –

Eduardo de Camargo Oliva

José Turíbio de Oliveira

  1. UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O KAIZEN - BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CULTURA INOVADORA NAS EMPRESAS DO GRANDE ABC PAULISTA –

Gisele Yamauchi

  1. A DESINDUSTRIALIZAÇÃO GERANDO MAIOR DESIGUALDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NAS CIDADES QUE COMPÕEM O ABC PAULISTA – 76

Antônio Aparecido de Carvalho

Álvaro Francisco Fernandes Neto

Leonardo Birche de Carvalho

  1. URBANISMO TÁTICO: POSSIBILIDADE PARA O GRANDE ABC? –

Enio Moro Junior

  1. O NECESSÁRIO FORTALECIMENTO DE UMA AGENDA PARA O FUTURO REGIONAL DO GRANDE ABC PAULISTA –

Edgar da Nóbrega Gomes

  1. PROPOSTA DE DESENHO DE UM THINK TANK PARA DESENVOLVER INTELIGÊNCIA REGIONAL DE SUPORTE AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO GRANDE ABC PAULISTA –

Aristogiton Moura

  1. DESENVOLVIMENTO REGIONAL RESPONSÁVEL E SUSTENTÁVEL (DRRS): UM ESTUDO SOBRE A REGIÃO DO GRANDE ABC PAULISTA –

Raquel da Silva Pereira

Angelo Palmisano

  1. IMPACTO ECONÔMICO DA RECICLAGEM NO GRANDE ABC PAULISTA –

Lúcio Flávio Freitas

  1. METODOLOGIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL REFERENCIADA NO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL – APLICAÇÃO EM COOPERATIVA AGROPECUÁRIA E DE COLETA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS –

Pedro Souza Ferrão

  1. A QUESTÃO ALIMENTAR NO GRANDE ABC: A EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO DAS COMPRAS COMUNITÁRIAS –

José Lourenço Pechtoll

  1. ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BATATA FRITA: ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS X AMBULANTES EM MUNICÍPIOS DO GRANDE ABC PAULISTA –

Caroline Rosa Koerner

Débora Francine Fonseca

José Carlos dos Santos Júnior

  1. ARRANJO PRODUTIVO LOCAL (APL) COMO POLÍTICA DE FOMENTO ÀS CADEIAS PRODUTIVAS: O CASO DOS APLs DO GRANDE ABC E DO APL DE PÃO DE QUEIJO DE HORTOLÂNDIA –

Alessandra Santos Rosa

Rafael Pupo Maia

  1. A INTRODUÇÃO DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO NAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS: O CRESCIMENTO DO SETOR PET NO BRASIL, ALGUNS NÚMEROS DA PRESENÇA DE CÃES E GATOS NA REGIÃO DO GRANDE ABC PAULISTA E REFLEXÕES SOBRE O BEM-ESTAR ANIMAL –

Stefanie Sussai

Ivan Santos da Silva

  1. INDICADORES DO NÚCLEO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA DE SÃO CAETANO DO SUL –

Patrícia Maria Villa Lhacer

  1. INDICADORES CRIMINAIS DO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2019 DO GRANDE ABC PAULISTA –

David Pimentel Barbosa de Siena

Ana Carolina Kaminski Buratto

Rafaella Navarro Leonel

  1. É PRECISO MELHORAR AS GESTÕES ESTRATÉGICAS LOCAIS DO PODER JUDICIÁRIO –

Marcelo Vegi da Conceição

  1. AS OFERTAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E AS FRAGILIDADES DAS MATRÍCULAS NOS CURSOS DE FORMAÇÃO INTEGRAL EM SÃO PAULO E NO GRANDE ABC PAULISTA –

Adriana Pereira da Silva

  1. REPRESENTAÇÃO DO SER HUMANO NO GOOGLE BOOKS: UMA PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA DE CORPUS SOB OS ESTÁGIOS DA VIDA –

Bárbara Soares da Silva

  1. O MERCADO DE STARTUPS NA REGIÃO DO GRANDE ABC PAULISTA –

Álvaro Barbosa da Silva Junior

  1. O CAPITAL NÃO É GELEIA – 202

Jefferson José da Conceição

  

Para acesso ao artigo “Os afastamentos no setor bancário: transtornos de uma categoria sob pressão” clique aqui.

 

Para acesso ao site do Conjuscs: http://www.uscs.edu.br/sites/conjuscs/


 Anexo: NT VIVIAN E CATIA.pdf