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Felisa 2023 celebrou literatura, talentos e diversidade em Santo André

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Felisa2023 capaNos dias 1º e 2 de dezembro, o espaço do Sindicato dos Bancários do ABC, localizado na Rua Xavier de Toledo, 268, no coração de Santo André, foi palco da 6ª edição da Feira Literária de Santo André (Felisa).

O Concurso Felisa Poética, que compõe a feira, anualmente reúne escritores de destaque, homenageando diversos gêneros literários. O evento é organizado pelo Sindicato dos Bancários do ABC, Sinpro ABC e Editora Coopacesso.

Ao longo dos dois dias, a programação incluiu debates enriquecedores, apresentações musicais, lançamentos de obras literárias e envolventes contações de histórias. A Felisa 2023 não apenas celebrou a paixão pela literatura, mas também promoveu a riqueza da diversidade cultural, consolidando-se como um ponto de encontro tradicional que destaca o cenário literário local.

Neste ano, Gisete Regina Dalarte ganhou o Concurso de Poesia da Felisa em 1º lugar. A feira homenageou também Dalila Teles Veras, natural de Funchal, Portugal, encontrou no Brasil sua pátria desde a infância, construindo uma trajetória notável como escritora, ativista cultural, livreira e editora.

Autora renomada, Dalila é reconhecida por suas obras poéticas, incluindo "Fuga e Urgências" (2022) e "Tempo em Fúria" (2019), demonstrando maestria no universo da poesia contemporânea.

Além de seus feitos na poesia, a escritora também tem importantes crônicas, diários literários e ensaios memorialísticos, ampliando sua influência e contribuição para a literatura brasileira. “Me sinto honrada em participado da Felisa, um espaço importante para a difusão do livro e da literatura”, disse a autora.

Para o secretário de Comunicação do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira, a feira é sinônimo de valorização da cultura. Ela foi inaugurada em 2018 e se solidificou como um marco cultural, destacando talentosos escritores e artistas locais. Além de um espaço literário, se tornou um espaço artístico, musical. Trouxemos projetos sociais, comida orgânica, debates políticos sobre temas essenciais para a sociedade e a população de Santo André”, afirma o dirigente e idealizador da Felisa. 

Presidente da Coopacesso, Jerônimo de Almeida Neto, também destaca a origem da Felisa, surgida da necessidade de proporcionar espaço aos escritores locais para a divulgação de suas obras. Em 2018, a cooperação com a diretoria do Sindicato dos Bancários do ABC, liderada por Belmiro Moreira, presidente à época, contava com pouco mais de duas dezenas de escritores. Em 2023, a sexta edição chega a cerca de 40 escritores, evidenciando seu crescimento ao longo dos anos.

Jerônimo igualmente enfatiza que a feira é mais do que um evento literário. “É um espaço de resistência, reunindo escritores e leitores em encontros significativos. Se perpetua como um marco na promoção da literatura andreense, fortalecendo os laços entre os protagonistas literários e seu público”, afirma. 

Artista renomada

A multifacetada artista Alcidéa Miguel, renomada cantora e atriz, foi uma das participantes da feira. Como escritora afro-brasileira, publicou 12 livros solo para o público adulto e infantil e participou de 48 antologias no Brasil, Argentina, Portugal e Itália.

Moradora da cidade de Santo André, Alcidéa é membro ilustre da Academia de Letras da Grande São Paulo, ocupando a cadeira 25 de Vinícius de Moraes, além de integrar as academias de Praia Grande (cadeira 16) e Internacional de Literatura Brasileira.

Ela fala sobre sua paixão pela diversidade literária. "Participo da Felisa desde sua primeira edição, aproveitando a oportunidade para compartilhar minhas obras, que abrangem literatura infantil e para adultos. Abordo temas como combate ao racismo, diversidade e histórias que inspiram", detalha.

A escritora destaca a importância da Felisa em unir talentos do Grande ABC e da Grande São Paulo, proporcionando visibilidade a autores de Santo André. "A feira é um estímulo significativo para a comunidade literária local", afirma.

No sarau deste ano, Alcidéa emocionou o público ao ler seu texto "Mãe Solo", que retrata a realidade dessas mulheres corajosas. Além disso, lançou seu mais recente livro "Histórias que ouvi e vivenciei", pela editora Scortecci, trazendo relatos impactantes sobre pessoas em situações de rua, velhice, medo, amor, discriminação racial e outras experiências humanas.

A Felisa se destacou como um marco na carreira de Alcidéa Miguel, consolidando-a como uma voz autêntica na literatura brasileira contemporânea. 

Diversidade e literatura

Poeta cordelista, Pedro Monteiro, destaca sua trajetória e a importância da literatura de cordel na Felisa.

Iniciou sua escrita em 2008 com o texto "Chicó, o menino das 100 mentiras", seu primeiro cordel. Monteiro não cessou sua produção, acumulando quase 50 livros e folhetos de cordel, incluindo "A Volta ao Mundo em 80 dias", de Júlio Verne, em versão de Pedro Monteiro, publicado pela editora Nova Alexandria.Em breve também lançará o livro "Sete Lendas Indígenas em Cordel" (no prelo), pela editora Ciranda Cultural.

Originário da arte teatral, Monteiro viu sua transição para o universo cordelista como uma continuação de elementos teatrais em sua poesia, como evidenciado em obras como "João Grilo, um presepeiro no palácio", que se relaciona com o clássico "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna.

Ao falar sobre a Felisa, o autor destaca a diversidade linguística presente no evento, que abrange poesias, contos e crônicas. Ele ressalta a inclusão da literatura de cordel, reconhecida como “Patrimônio Cultural do Brasil”, em 2018, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Monteiro sugere a interação com escolas e estudantes, propondo gincanas e concursos de poesia como meios de envolver a juventude. Expressando gratidão à organização da Felisa, especialmente a Cláudio Noronha, ele destaca a importância de manter viva a paixão pela literatura e o estímulo à criatividade.

Literatura e poder público

Outro participante da Felisa 2023 foi o autor Marco Arroyonascido em Talcahuano, Chile, e hoje cidadão brasileiro naturalizado. Com formação em Teologia e Pedagogia, além de pós-graduação em Ciências Sociais e Religião, ele se destaca como professor de sociologia, consultor de planejamento estratégico, escritor e poeta.

Autor de obras notáveis, como "A Caminho do Império do Sol – Um Diário de Aventuras e Reflexões", "O Dia que os Patos Marcharam Contra o Sapo", "Projetos Sociais - Elaborar e Gerenciar", "Memórias Fugazes de uma Ditadura Militar" e "Cristãos pelo Socialismo no Governo de Salvador Allende no Chile de 1970 a 1973", Arroyo é uma presença marcante na cena literária brasileira.

Ao falar sobre a Felisa, Marco Arroyo expressa sua gratidão aos organizadores, especialmente ao Sindicato dos Bancários do ABC e à Copacesso, pela iniciativa e organização do evento.

Arroyo compara a Felisa à renomada Bienal do Livro, ressaltando que, guardadas as proporções, o evento andreense não fica atrás em conceito. Ele instiga o poder público a prestar mais atenção e oferecer apoio a iniciativas como essa, que elevam a imagem da cidade.

Embora reconheça que, para pequenos produtores independentes como ele, a feira ainda não represente uma oportunidade expressiva de vendas, Marco Arroyo destaca o valor da Felisa como um espaço para fortalecer laços na comunidade literária. 

Diálogos fraternos e democráticos 

Para Edilene Arjon, presidenta do Sinpro-ABC, a feira não é apenas um espaço para escritores, artistas e poetas, mas também um ponto de destaque para novos talentos.

Durante a abertura do evento, enfatizou que a Felisa transcende seu papel tradicional, transformando-se em um bastião de resistência diante dos desafios trazidos pela pandemia e pelas políticas desfavoráveis ao meio educacional e artístico.

Segundo ela, a feira não apenas proporciona uma plataforma para a expressão cultural, mas também se torna um espaço de ocupação e resistência diante das adversidades políticas. 

Anderson Pirota, bancário e escritor, destaca a importância da Felisa 2023 como um espaço crucial para aqueles que, de outra forma, enfrentariam desafios em encontrar locais para apresentar suas obras. 

Ele ressalta que a feira se destaca como um ambiente democrático, oferecendo visibilidade a escritores e escritoras muitas vezes invisíveis e marginalizados pela grande mídia e pelo mercado literário.

De acordo comPirota, a Felisa não apenas oferece uma plataforma para exposição de obras, mas também fomenta diálogos fraternos e democráticos entre os autores. Destaca ainda a importância de manter viva a Felisa para garantir a continuidade desse espaço democrático, essencial para a democratização do acesso à literatura e para ampliar a visibilidade das obras produzidas por diversos segmentos da sociedade.

Em 2023, ele apresenta seu mais recente trabalho:"A sedução da retórica e a política contemporânea: entre retórica e parresia" (Editora Longarina). A obra é uma análise minuciosa dos discursos de posse de todos os presidentes brasileiros desde a redemocratização, representando um valioso contributo à compreensão da política contemporânea no país.

Texto: Vanessa Ramos – Sindicato dos Bancários do ABC

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