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Sindicato promove palestras para estudantes da USCS sobre tendências no setor bancário

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O impacto da digitalização, da terceirização e da reforma trabalhista no emprego bancário foi a temática escolhida na última sexta-feira (15/09) para encerrar a rodada de palestras promovida pela Financial Week, na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, com o apoio do Sindicato dos Bancários do ABC. 

Para a técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Barbara Vallejos Vasquez, a implantação da tecnologia em larga escala nas operações bancárias torna as estruturas das agências menores, com precarização das relações de trabalho e, consequentemente, uma intensa desigualdade social. “Muitas das funções que antes necessitavam de pessoas, agora passam a ser executadas por meio da tecnologia e acessos móveis. Os trabalhadores que ficam podem ser terceirizados em condições inferiores a de um funcionário direto bancário, além estarem submetidos à perda do controle de jornada, uma vez que o serviço digital pode ser a qualquer momento dependendo da demanda”, apontou.

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Desintermediação bancária

A busca pela automação e digitalização dos processos tem sido apresentada como alavanca de eficiência operacional pelos bancos, mas serve também para o aumento do lucro das principais empresas do setor – que atingiu R$ 50 bilhões no final do ano passado. Isso porque há um aumento na participação em canais de baixos custos para os bancos. Enquanto uma operação em agência tem custos às instituições financeiras de 100%, as operações em celular equivalem a 3% - consequência principal da diminuição dos postos de trabalho e do aumento da atuação de correspondentes bancários.

“Essa processo é chamado de desintermediação bancária. O que significa que, de alguma forma, as operações financeiras estão saindo da mão dos bancos e do poder de regulação do próprio estado. Isso tem um caráter interessante aos bancos, mas do ponto de vista sistêmico é muito perigoso por possibilitar a abertura de espaço para fraudes e crises”, afirmou a técnica.

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Reforma trabalhista

A aprovação da reforma trabalhista (Lei nº 13.467) em julho deste ano traz uma profunda mudança na legislação com a alteração de mais de 100 pontos na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Entre os itens, a coordenadora jurídica do Sindicato dos Bancários do ABC, Maria da Consolação Vegi, destacou como principais a inversão da lógica do legislado sobre o negociado; a flexibilização da jornada de trabalho e da remuneração do trabalhador; o enfraquecimento do movimento sindical; o favorecimento dos acordos individuais; e a dificuldade do acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho.

“O trabalhador hoje não tem custo com a ação trabalhista. Com a reforma, apenas os trabalhadores que ganham até dois mil reais terão acesso à justiça gratuita. Acima disso não será possível e, se perder a causa, este trabalhador terá que pagar os honorários da parte contrária. Isso inibe a procura. São diversos os aspectos que torna o trabalho vulnerável ao desejo dos empresários, retirando direitos dos trabalhadores”, disse.

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Terceirização

Desde a década de 80, a terceirização nas empresas foi adotada em áreas como limpeza e segurança, por exemplo, uma vez que não eram as atividades principais desempenhadas pela empresa – as chamadas atividades-fim. Com o passar dos anos, essa prática foi estendida para outras funções até que, em março deste ano, a terceirização foi autorizada pelo governo de forma irrestrita para qualquer tipo de atividade. Ou seja, uma escola poderá ter professores contratados por meio de empresas terceiras.

“Acaba a ideia de um trabalhador fazer carreira em uma empresa, e a baixa integração no trabalho traz consequências na estrutura familiar e social, com a justificativa da modernização. Fato é que terceirização não gera emprego, mas sim a demanda do consumo. E o cliente de modo geral sente os efeitos disso pela falta de segurança , fruto de um crescimento excludente promovido pelos detentores do capital”, ressaltou a professora na Faculdade 28 de Agosto, Ana Tercia.

A luta continua

O movimento sindical esteve nas ruas e, inclusive, foi à Brasília para demonstrar contrariedade aos ataques que recaem diretamente sobre os direitos dos trabalhadores e da democracia brasileira. “Infelizmente este governo conseguiu maioria para aprovar todas as mudanças na legislação trabalhista para atender aos empresários, mas nós continuaremos em luta pela proteção de direitos trabalhistas e pela defesa dos bancos públicos alvos de interesses de privatizações”, apontou Belmiro Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários do ABC.

Inclusive, o sindicato faz parte do Comitê pela Anulação da Reforma Trabalhista movido pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) com o objetivo de reunir 1,3 milhão de assinaturas a serem entregues ao Congresso até o início de novembro, antes de a lei entrar em vigor. “Não podemos deixar de manifestar a nossa indignação, e os estudantes aqui presentes precisam estar cientes de que se nada for feito é o futuro deles que está em jogo”, complementou Moreira.

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A realização da Financial Week partiu da importância em debater temas da atualidade cada vez mais em transformação, em um ambiente econômico predominante. Durante os cinco dias de palestras, mais de 1.000 alunos puderam discutir temáticas como a Era do capital improdutivo; funções e disfunções do sistema financeiro nacional; a financeirização da economia; fintechs – as startups no mercado financeiro; investimentos em fundos de pensão; bitcoin’s; a importância das certificações; as aplicações financeiras e a gestão de risco.

“A universidade tem papel fundamental na construção destes debates para formar um novo perfil de trabalhadores e promover a reflexão de todas as transformações no mercado”, concluiu o economista e professor na USCS Jefferson José da Conceição, um dos organizadores do evento.

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Iara Voros - Especial para o Sindicato

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